Policiais apresentaram revólver quebrado para justificar troca de tiros com jovens fuzilados

O revólver calibre 38 apresentado por PMs na 39ª DP (Pavuna) como prova de que pelo menos um dos cinco jovens fuzilados num carro em Costa Barros, na Zona Norte, em novembro do ano passado, atirou contra os agentes não era “capaz de produzir tiros”, segundo laudo pericial obtido com exclusividade pelo EXTRA. Em depoimento, os quatro PMs acusados do crime afirmaram que o carona do veículo, Wesley Castro Rodrigues, atirou contra os eles.

Por Rafael Soares, do Extra 

A prova é mais uma nos autos do processo que corre na 2ª Vara Criminal que derruba a versão dos PMs. No domingo, o EXTRA mostrou que o confronto balístico realizado entre as armas utilizadas pelos PMs e projéteis e estojos encontrados na cena do crime revela que as armas dos quatro agentes dispararam em direção aos jovens.

De acordo com o laudo pericial da arma, o revólver não funcionava “tendo em vista o posicionamento incorreto do gatilho internamente, o qual se encontrava desarticulado da armadilha”. Nenhum dos estojos ou projéteis encontrados na cena do crime foi disparado pela arma. Na delegacia, os policiais ainda afirmaram que retiraram a arma do local do crime e levaram até a 39ª DP porque “não sabiam da necessidade de deixá-la no local”.

— Essa é mais uma prova de que o revólver era uma arma fria e eles tentaram armar a cena do crime — afirma o promotor do caso, Fábio dos Santos.

Os PMs respondem pelos crimes de homicídio, fraude processual e porte ilegal de arma de fogo.

Consumo de munição é contestado

O consumo de munição registrado pelos quatro policiais acusados do crime no 41º BPM (Irajá) foi contestado por oficiais da própria unidade. No verso da ficha de consumo — onde os agentes relatam que atiraram 74 vezes, sendo 41 com fuzis — o chefe da Reserva Única de Material Bélico do batalhão, tenente José Crisanto da Silva, afirma que oficiais superiores não assinaram o documento porque “discordaram da quantidade de munição consumida”.

No documento, o cabo Fábio Pizza Oliveira da Silva não registra nenhum disparo. Entretanto, cinco projéteis de sua pistola foram encontradas pela perícia no carro.

Além do cabo, os soldados Antônio Carlos Gonçalves Filho e Thiago Resende Viana Barbosa e o sargento Marcio Darcy Alves dos Santos foram soltos beneficiados por um habeas corpus e estão realizando atividades administrativas, segundo a PM. O MP pediu novamente a prisão dos policiais no dia 22 de junho. Desde então, o juiz responsável pelo caso, Daniel Werneck Cotta, não apreciou o pedido.

Ontem, o processo foi enviado novamente ao Ministério Público estadual.

 

Entenda o Caso:

Falha da Justiça tirou da cadeia PMs acusados pelo assassinato de cinco jovens em Costa Barros 

Fernando Molica: Um monumento para os cinco jovens

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