Desabafo Étnico

“Ei, senhor de engenho…eu sei bem quem você é!”

Foto enviada por Clayton Rodrigues.

Por Clayton Rodrigues  Enviado para o Portal Geledés 

É senhor de engenho…quem diria!

Entenda que a cada dia, sempre que necessário, usaremos do mesmo esforço que nos fez plantar e colher a doce cana, para adentrar a casa-grande e mostrar a consequência da diáspora africana!

Entenda que qualquer discurso como este não é, de maneira alguma, uma demonstração de ódio. Não!

Entenda que qualquer discurso como este é para mostrar que para ser 1 2 3 que chegam ao pódio é necessário ter o pensamento que, mesmo com todos os pré-julgamentos, temos o sangue de nossos antepassados, que foram açoitados, subjugados ao ponto de nos fazerem crer que somos menos que alguém. Não vem que não tem!

Entenda que nós temos memória e é por este motivo que a cada vitória olhamos para trás e vemos nossos pais, avós, etc e tal…até chegar ao negro que participou da primeira expedição ao Brasil junto a Cabral.

Entenda que ao olharmos no espelho, vemos nossa imagem como reflexo de um povo oprimido, que mesmo cansado não se dá por vencido.

Entenda que ditar regra pro meu cabelo é um retrocesso, mas sem bossa nova e muito menos rock’n roll. Seja ele raspado, enrolado, pintado ou até mesmo alisado, black power, dread ou trança nagô…a escolha é nossa, morô?!

Entenda que cotas e variadas bolsas não são ajudas e muito menos favores. Se utilizamos destes recursos é porque conosco vocês têm uma dívida muito maior, onde todos vocês foram e continuam sendo beneficiados com o nosso valioso suor. E sim, muito antes de nosso “aqui jaz…” utilizaremos todos esses recursos até não precisarmos mais!

Não se enganem, pois enquanto no país em que vivemos o negro for a maioria não aceitaremos ser tratados com mendigarias; empurrando goela a baixo que só servimos para morar em morros, favelas e periferias.

Entenda a contradição: aprendemos desde pequenos que vocês atravessaram mares, conquistaram batalhas, ganharam terrenos…já do negro, se não for pelo nosso próprio esforço e interesse, quase nada saberemos. Não tentem mais nos ludibriar e ocultar nossa vida pré-escravatura. Queremos nas escolas o mesmo espaço para ouvir falar de nossa história, falar de nossa cultura!

Entenda que suas artimanhas como distinguir racismo de injúria racial não nos farão calar! A cada palavra mau proferida e a cada gesto intolerante contra nossa raça, contra nossa vida, não mais ficarão impunes: usaremos de nossa perfeita oratória para repudiar qualquer ação discriminatória; prestaremos queixa na delegacia e mesmo que nos deixe mofando noite e dia para fazer o boletim de ocorrência, mostraremos que somos negros e negros são resistentes por essência!

Entenda que a conquista de um diploma de ensino superior não resume nossa luta. É verdade.  Somos um povo de fé e boa conduta que ao vencer cada disputa, abrimos espaço para mais oportunidades

** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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