Consciência e presença Negra no surfe

No Brasil, 20 de novembro, comemora-se o Dia da Consciência Negra. Há 324 anos, neste mesmo dia, Zumbi dos Palmares fora decapitado. Sua cabeça exposta em praça pública como amostra do que aconteceria quando alguém desafiava o sistema escravagista.

Por Janaína Pedroso, do Origem Surf

Foto: Matt Rogers/The World

Sistema este que, no Brasil, tardou a desaparecer. E quando sumiu não houve nada, absolutamente nada que fosse feito para reparar danos e inserir ex-escravos na sociedade de forma digna. Pelo contrário, houve recompensa aos fazendeiros que sentiram-se injustiçados por não terem mais seres humanos para escravizar.

Com essa história torta o Brasil se forma; mas e no surfe? Quando os negros ao redor do mundo, e por aqui, começaram a surfar?

A popularização do surfe, de fato, se deu na Califórnia por volta de 1900, mas somente quarenta anos depois surgiria o primeiro surfista negro, com relevância na cena do esporte. Nick Gabaldon é reconhecido até hoje por ter sido o pioneiro a quebrar as barreiras raciais imputadas nos territórios estadunidenses, surfando em Malibu, em meados de 1940.

De acordo com o artigo “Surfing for Freedom: Black Surfers and Reclaiming Cultural History in Los Angeles”, publicado pelo jornalista Ryan Reft, Nick tornou-se conhecido por remar até 12 milhas de distância. O surfista percorria o trajeto com sua prancha, a partir do lugar em que os negros eram permitidos entrar no mar, até o melhor pico de ondas para surfar.

Gabaldon morreu surfando, aos 24 anos de idade, após colidir com os pilares do famosos pier de Malibu.

Surfe negro no Brasil

Segundo o jornalista Julio Adler, do podcast Bóia, um dos primeiros surfistas negros com destaque no Brasil foi Carlos Gonçalves Lima, mais conhecido como Tinguinha. No início da década de 80, o surfista era um dos poucos negros em evidência na cena nacional do surfe.

“Também tivemos o Jocélio de Jesus”, lembra Adler. De acordo com o jornalista, só na metade dos anos 80 entraria em cena Jojó de Olivença.

Tido como precursor dos aéreos no Brasil, Luiz “Neguinho”, de Santos, também é reconhecido como um dos grandes nomes da cena do surfe nacional.

Luiz Neguinho foi o precursor dos aéreos no Brasil da década de 80. Curiosamente, em 2010, Victor Bernardo, aos 13 anos, seria comparado a Luiz.
Chico Padilha

Movimentos de surfistas negras

Criado em 2014, o Black Girls Surf foi inaugurado no sentido de integrar surfistas da diáspora africana. Desse modo, o coletivo apoia surfistas negras de 05 a 17 anos.

No Brasil, a surfista Erica Prado está à frente o movimento “Surfistas Negras”. Aliás, dia 23 de novembro, no Rio de Janeiro, ocorre o “1º Encontro Nacional de Surfistas Negras e Nordestinas”.

 

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|| Inscrições abertas || 🏄🏾‍♀️🌺🐚✌🏾 • No dia 23 de novembro será realizado no Rio de Janeiro o 1º Encontro Nacional de surfistas negras e nordestinas. A ideia é promover uma grande confraternização entre mulheres que amam o surfe, seja ela competidora ou free surfer e aquelas que admiram o esporte, mas nunca tiveram a oportunidade de experimentá-lo. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ Atividades: • Aulas de surfe (ministrada por mulheres) • 🌺 “Conexão com seu Oceano interno” com a @longarinaoficial. • • 🙋🏾‍♀️🙋🏿‍♀️Roda de Conversa “Mulher negra x Surfe”, formada por @Nualacosta, @yancacosta_ , Karina Barbosa, @alinnepradooficial e @vanprandobertelli . • 🏄🏾‍♀️Bateria especial com surfistas profissionais e ex-profissionais de diversas gerações. ° • • Com o intuito de estimular cada vez mais mulheres a pegarem onda, duas pranchas novas serão sorteadas (uma aqui no Instagram e outra entre as participantes do encontro). ° • Apoio: @roxybrasil, @purezas_da_estacao, @pranchastbc, @muller_surfboards, @escolacariocadesurf e @agenciainova.acao° Idealização: Movimento Surfistas Negras Coprodução: @longarinaoficial ° O evento é exclusivo para mulheres!! ⠀ Investimento: 50,00 • Link para inscrição na bio 🤙🏾

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Por fim, e para quem se interessar na temática, vale ouvir a recente publicação do podcast da Ilustríssima com a autora, doutora em filosofia da educação e ativista, Sueli Carneiro.

https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2019/11/nao-da-para-falar-de-feminismo-sem-a-mulher-negra-diz-sueli-carneiro.shtml

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