Justiça decreta prisão de três homens pela morte do congolês Moïse no Rio

Trio havia sido detido nesta terça-feira (1º), e a polícia pediu a prisão à Justiça. Fábio Silva vende caipirinhas na praia e estava escondido na casa de parentes. Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca admitiu agressões, mas negou que quisessem matar a vítima. Brendon Alexander Luz da Silva aparece imobilizando Moïse.

A Justiça decretou a prisão temporária dos três homens detidos pela morte do congolês Moïse Kabagambe. O trio havia sido detido nesta terça-feira (1º), e a polícia tinha pedido a prisão ao Judiciário fluminense.

“Ainda existem diligências e atos investigativos a serem realizados a fim de que os fatos sejam melhor elucidados. A prisão temporária é espécie de medida cautelar que visa assegurar a eficácia das investigações para, posteriormente, possibilitar o fornecimento de justa causa para a instauração de um processo penal. Não se trata de prisão preventiva, obedecendo a hipóteses diversas, sendo uma espécie de prisão cautelar ainda mais restrita”, afirmou a juíza Isabel Teresa Pinto Coelho Diniz, do Plantão Judiciário da capital, na decisão.

Os três deverão responder por homicídio duplamente qualificado — por impossibilidade de defesa da vítima e meio cruel. O processo corre em sigilo.

Segundo a polícia, um dos presos é vendedor de caipirinhas na praia e foi preso em Paciência, também na Zona Oeste. Ele foi identificado apenas como Fábio Silva. Ainda segundo a polícia, Fábio confessou aos agentes que deu pauladas no congolês. Ele estava escondido na casa de parentes.

À tarde, outro homem que admite ter cometido as agressões que resultaram na morte do congolês se apresentou na 34ª DP (Bangu) e foi levado para a Delegacia de Homicídios do Rio. Ele foi identificado como Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e tem 27 anos.

Em um vídeo, Aleson afirmou que “ninguém queria tirar a vida dele” [Moïse] e que o grupo foi “defender o senhor” do quiosque do lado, com quem Moïse teria tido “um problema”, segundo Aleson. Veja abaixo.

O terceiro preso é Brendon Alexander Luz da Silva, o Tota. Segundo a polícia, ele aparece no registro das agressões imobilizando Moïse no chão.

Dono nega dívida

O dono do quiosque onde Moïse trabalhava prestou depoimento à polícia nesta terça. A defesa dele afirmou que o homem não conhece os agressores. O dono do quiosque também negou que havia dívidas do quiosque com Moïse. Segundo sua defesa, ele estava em casa quando o congolês foi espancado e apenas um funcionário do estabelecimento estava no local no momento das agressões.

Barra de madeira apreendida

A polícia apreendeu uma arma usadas no crime: uma barra de madeira, que tinha sido descartada em um mato perto do local do crime, segundo Damasceno. O delegado também afirmou que as pessoas que agrediram o congolês não trabalham no quiosque.

Barra de madeira usada no espancamento do congolês foi apreendida pela polícia — Foto: Nicolás Satriano/g1


Moïse levou ao menos 30 pauladas

Também nesta terça, a polícia divulgou imagens das câmeras do quiosque onde o congolês foi espancado até a morte (veja imagens acima).

As imagens mostram que Moïse Kabagambe recebeu ao menos 30 pauladas dos agressores — parte delas enquanto estava imobilizado no chão, sem chance de defesa.

As imagens mostram que as agressões começam depois de uma discussão entre um homem que segura um pedaço de pau e o congolês, que levanta objetos do quiosque como uma cadeira e um cabo de vassoura.

Em um momento, Moïse mexe em um refrigerador, e aí se aproximam mais dois homens. Um deles o derruba e, na sequência, começa a sessão de agressões. Em vários momentos é possível ver que o congolês não oferece mais resistência enquanto leva mais golpes com um pedaço de madeira.

Dono do quiosque foi ouvido

Agentes da Divisão de Homicídios do Rio ouviram nesta tarde o dono do quiosque Tropicália, onde o Moïse Kabagambe trabalhou como atendente.

O g1 apurou que ele foi ouvido na 16ª DP (Barra da Tijuca) para evitar a imprensa, que aguardava na própria DH.

A defesa do dono do quiosque afirma que ele não conhece o homem que afirmou ter agredido o congolês e nem os outros que aparecem no vídeo de segurança do estabelecimento agredindo Moïse.

O dono do quiosque também negou que havia dívidas do quiosque com Moïse. Segundo sua defesa, ele estava em casa quando o congolês foi espancado e apenas um funcionário do estabelecimento estava no local no momento das agressões.

O imigrante morreu espancado, segundo parentes, depois de cobrar um pagamento atrasado. O corpo dele foi achado amarrado em uma escada do quiosque.

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