Concha Buika, a diva de Almodóvar, em novo disco

Em seu novo disco, ‘Vivir sin Miedo’, Concha Buika traz uma canção dedicada a São Paulo e ao Rio de Janeiro. Confira sua entrevista para Jotabê Medeiros

Por Jotabê Medeiros do Farofafá

Diva de Pedro Almodóvar, a cantora Concha Buika está de volta com um disco novo, “Vivir sin Miedo” (lançamento Warner Music Brasil). Ela esteve no Brasil no ano passado (tomamos um café em Higienópolis), e planeja regressar em 2016. “Vivir Sin Miedo”, que mescla canto em inglês e espanhol, tem 10 canções (9 são composições dela) e é o trabalho mais pop e com pinta de tocar no rádio que Buika já fez (conta com participações de Jason Mraz eMeshell Ndegeocello, além do lendário cantor de flamenco Potito).

A cantora mantém a marca de afrobeat e flamenco características, mas também envereda pelo ragga, pelo jazz e pelo folk. A única música que não é dela foi composta pelo produtor Martin Terefe (que trabalhou em discos deColdplay e Mary J. Blige). Na quinta-feira de tarde (29/10), Buika conversou por telefone, desde Madri, com El Pajaro que Come Piedra, a respeito de seu novo momento.

Jotabê Medeiros – Você tem uma música chamada “Cidade do Amor” no seu novo disco. Ela possui o verso “this big city is a jungle of love” (“essa grande cidade é uma selva do amor”). É uma música para São Paulo, não é?
Concha Buika – Sim.

JM – E por que você dedicou uma música para São Paulo?
CB – Eu quis dedicar uma canção aos ritmos das cidades. Quando estive em São Paulo e no Rio de Janeiro, essas suas cidades me impressionaram pela sua cadência, sua vitalidade particular. São cidades que vibram. Por isso, dei o título da canção em português, embora seja cantada em inglês. É de fato um tributo às suas cidades.

JM – Pode-se dizer também que esse é seu disco mais americano, certo?
CB – Não é verdade. Eu canto em inglês nesse disco porque quis também homenagear esse idioma, que hoje é universal, fala-se o inglês em qualquer parte do mundo. Também é uma língua muito bonita. Mas é americano só no idioma, o resto é igual. Sou filha de mãe africana, me criei entre a Espanha e o resto do mundo. Tudo isso é parte da minha música.

JM – Há também no disco um reggae chamada “Carry On Your Own Weight”, cantada em parceria com o cantor Jason Mraz. Essa me lembrou Neneh Cherry e Youssou N’Dour cantando “7 Seconds”. Você fez parceria com Mraz por afinidade ou o quê?
CB – Essa canção era do meu produtor, que trabalhou no meu disco anterior. Era uma melodia muito bonita, mas faltava uma parte. Eu a compus. Ficou faltando ainda algo mais. Eu saí em turnê e, quando voltei, houve esse encontro com Jason, e ele acabou encaixando muito bem. Foi uma união de forças muito bonita.

JM – Você lembra de “7 Seconds”, da Neneh Cherry?
CB – Recordo vagamente que era uma canção da minha infância…

JM – Está me chamando de velho?
CB – Hahahahahahahahaha. Não. Os que somos velhos somos nós, não as canções. Boas canções não têm idade. Se pareceu que te chamei de velho, não foi a intenção… Hahahahahahaha

JM – Você tem também um verso na canção-título do disco, “Vivir sin Miedo”, que evoca Alicia Keys, “this girl is on fire”…
CB – Não agrada a ninguém ser comparado a quem quer que seja. Eu quero pensar que todos sonhamos em sermos únicos e insubstituíveis. Conheço Alicia Keys e a única coisa que nos aproxima é que ela é uma mulher, além de ser muito simpática e bela. Mas “girl is on fire” é uma frase muito recorrente, já era usada largamente muito antes de existir Alicia Keys. É como pensar que quando eu canto “I Love you” eu estou citando alguém…

JM – Creio que o seu maior hit até hoje foi “Mi Niña Lola”. Mas esse novo disco está cheio de hits potenciais. Foi algo deliberado, você buscou canções que possam ser muito tocadas e muito ouvidas?
CB – Creio que existem os artistas que buscam hits, mas eu não sou buscadora de nada. Nem faço psicanálise porque não estou à procura de nada. Escuto a música em minha cabeça o tempo todo, e então eu canto e gravo. Sou apenas uma fotógrafa de sons.

JM – Você compôs músicas como “Sister”, que é uma balada acústica que lembra Joan Baez, e tem “The Key”, que é mais jazzística, uma canção orientada pelo piano. Você foi inspirada por outras cantoras, tipo Sarah Vaughan, Billie Holiday?
CB – Reconheço que eu jamais estudei muito outras cantoras. O trompete sempre foi o instrumento no qual eu prestei atenção. Não sei dizer porque me identifiquei mais com o trompete. Se eu pudesse escrever uma partitura, escreveria para trompete. É um instrumento que considero como um ganso, um grasnar que voa muito acima do seu registro. Eu já quis ser baterista, mas o instrumento que sempre me fascinou foi o trompete.

JM – E há a canção “Si Volvere”, que é mais aflamencada, tem cajón e parece mais sua produção anterior.
CB – “Si Volvere” é mais afro, é puro ritmo. É uma música que eu dedico a todas as pessoas que me ajudaram, que sempre estavam lá quando eu as procurava. É para essas pessoas que eu tenho em meu coração, e que sempre terei. Provavelmente levarei esse disco no ano que vem ao Brasil, ainda não sei o mês. Vamos iniciar a turnê européia e em seguida vamos para essa parte do mundo.

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