Os Kennedy, seres mágicos e canonizados do Olimpo?

Fonte: O Tempo –

Desde criança sou voeirista da saga dos Kennedys. Talvez uma herança. Papai, que era vereador, era fascinado pelo John Fitzgerald Kennedy (JFK). Eu e meu irmão Gil, apelidado Gil de Ferran, a que chamo de Deda, herdamos de papai o gosto pela política. Falar sobre os Kennedy é um pouco rememorar papai, leitor compulsivo. Na Palestina, onde nasci, um povoado num vale do sertão perdido no meio do nada, hoje Graça Aranha (MA), havia fila para ler as revistas “Seleções” e “O Cruzeiro” de papai!

Por Fátima Oliveira

Ouvi no rádio, caladinha sentada ao lado de papai, a notícia do assassinato de JFK (22.11.1963). Foi a última vez em que falei com meu pai, que viajou no dia seguinte e faleceu cinco dias depois (27.11.1963). Sei que os Kennedys não são “a última coca-cola do deserto”, mas são democratas desde que seus ancestrais irlandeses, no século 19, vieram “fazer a América”. Credencial respeitável.

Em “Os Kennedys: a realeza americana”, Adriana Maximiliano diz que “eles enriqueceram enquanto o mundo ruía, conquistaram o Senado, a Casa Branca e inúmeras beldades de Hollywood. Não fossem as tragédias que assombram sua história, os Kennedys seriam uma família invejável”. Porém, na vida pessoal eram “cafajestes e irresistíveis” e “a corte do rei Arthur e a família Kennedy têm muito em comum”. Daí o mito de Camelot – lendário castelo, sede da corte do rei Arthur, onde havia num salão uma enorme mesa, a Távola Redonda, para “les chevaliers de la table ronde”, responsáveis pela busca do santo graal.

Na campanha de Obama, os Kennedy emergiram com a aura que os cerca, materializados no artigo de Caroline Kennedy: “Barack Obama: um presidente como meu pai” (28.1.08) e na figura do senador Ted Kennedy (1932-2009), o “leão liberal do Senado”/”o príncipe da dinastia Kennedy”, cujo apoio a Obama foi decisivo.

Até então, para mim o senador era o caso Chappaquiddick (ilha descolada de outras), quando perdeu o controle do seu Oldsmobile numa ponte e mergulhou no rio (18.06.1969).

Presume-se que sua acompanhante, Mary Jo Kopechne, morreu afogada. Ela era professora e foi ativista na campanha presidencial de Bob Kennedy (1968). Diziam que era um affaire de Ted, à época casado com Joan, que só comunicou o acidente às autoridades dez horas depois. Negou embriaguez. Participantes da festa disseram o contrário. Foi condenado por dirigir de modo negligente, mas foi inocentado pela morte de Mary Jo. Em Chappaquiddick ele enterrou a chance de ser presidente dos EUA e inspirou uma publicidade da Volkswagen na revista “National Lampoon”: um fusca flutuando sobre a água, com os dizeres: “If Ted Kennedy drove a Volkswagen, he’d be President today” (Se Ted Kennedy dirigisse um Volkswagen, ele seria presidente hoje).

Em 1991, quando seu sobrinho William Kennedy Smith, filho de John Kennedy, foi acusado de estupro em Palm Beach (foi julgado e absolvido), Ted e um filho estavam na cena do suposto crime. O senador, no maior porre. Alguns jornais o descreveram correndo bêbado de cuecas na praia.

Como disse Lucas Mendes: “No Senado rugia, na vida pessoal prevaricava”. Foi senador durante quase meio século (1962-2009), exatos 47 anos, e fazia bonito na política: votou contra as intervenções militares norte-americanas; foi contra a ditadura no Chile, o apartheid na África do Sul e a guerra do Vietnã. No cenário doméstico, defendeu as cotas raciais, os direitos de imigrantes e fez da cobertura universal do direito à saúde a sua eterna e mais cara bandeira.

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