Pretenso espaço de democracia, esporte ainda sofre com o racismo

Fonte:Abril –

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Os sucessivos casos de racismo em campos, quadras e pistas por todo o mundo colocam em xeque a ideia de que o esporte é um espaço de democracia racial. A dificuldade no combate às práticas preconceituosas, que cresceram nos últimos anos, questiona o mito de que as diversas modalidades simbolizam a igualdade dos povos e escancara a fragilidade da posição do negro na sociedade civil.

A ideia em xeque está espalhada por diversos setores da população. A falta de oportunidade em outras áreas combinada com o talento prático se traduz na percepção do esporte como mecanismo de mobilidade social.

Dentro desse contexto, em um passado recente, torcedores e atletas se acostumaram a ver cenas como a do camaronês Samuel Eto’o. Em 2006, o então atacante do Barcelona ameaçou deixar o gramado em um jogo do Campeonato Espanhol sob o som de imitações de macacos feitas pela torcida do Zaragoza.

Desde então pouca coisa mudou. Apesar da pressão feita pelas entidades responsáveis, atletas e torcedores continuaram a se manifestar de forma racista pelo mundo, especialmente no futebol. Curiosamente, o esporte mais popular do mundo é uma das modalidades na qual o negro é mais valorizado do ponto de vista técnico.

“Isso mostra a sistemática diferença de posição que os negros ocupam na sociedade. Mesmo em um espaço em que eles são considerados como pessoas que se sobressaem no sentido positivo, em situações de tensão e disputa brancos ainda podem se sentir superiores. Isto deixa a outra pessoa, que sofre a expressão do preconceito, em uma situação de grande debilidade, porque ela não sabe quando é que esta tensão vai aflorar”, disse Fúlvia Rosemberg, professora de psicologia social da PUC-SP.

Especialmente quando os insultos acontecem entre jogadores, os envolvidos costumam aplicar a teoria do contexto, segundo a qual a violência pertinente ao esporte permite que certas agressões verbais sejam relevadas. A afirmação gera polêmica entre especialistas.

“Como no Brasil nós vivemos com o mito da democracia racial, a nossa tendência é minimizar expressões de racismo dizendo que é brincadeira, que a intenção não era de agredir o outro. Só que eu estou provocando com um conteúdo que diminui a outra pessoa. Você tira a humanidade da pessoa chamando de ‘macaco’ e a rebaixa a uma posição de animalidade. Rebaixando a uma posição de animalidade, eu estou aceitando uma visão de mundo na qual essa pessoa não é pessoa, vale menos do que eu”, disse Rosemberg.

“Dentro das quatro linhas realmente tem uma espécie de cultura do futebol. O jogo é muito agressivo mesmo. Agora, manifestações de torcidas são inaceitáveis, assim como na televisão e no jornal. Quanto mais público isso se torna pior. No espaço entre linhas acho que depende do caso a caso. Os próprios jogadores normalmente percebem quando passa do limite”, disse Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, professor titular de sociologia da USP.

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