“Morte à Ré…Pública” – Frente Negra Brasileira: Monarquismo Paulista no Século XX

Monarquismo paulista? – Introdução

A partir de 1902, associações de negros eram fundadas nas principais cidades do Brasil. Em sua maioria, se não todas, tinham cunho exclusivamente beneficente sem nem ao menos tratar sobre política e/ou “questões de raça”.

Esse cenário viria a mudar a partir da década de 1930; Laiana Lanes de Oliveira é categórica nesse ponto.

Para ela, a Revolução de 1930 seria o grande incentivo para que os negros, já mobilizados, pudessem alçar posições na política. Os resultados revolucionários não ficariam apenas no deslocamento presidencial do eixo São Paulo – Minas Gerais.

A Frente Negra Brasileira, nascida na capital paulista de 1931, foi um diferencial para os negros brasileiros. Além de ser uma associação recreativa e beneficente, tinha boa parte de suas atividades focadas na esfera política, transformando-se, em 1936, em partido político. 

O presente artigo tem como objetivo um dos discursos políticos da FNB: o monarquista.

Cenário político brasileiro e paulista 

A Frente Negra Brasileira tem como berço a política pós-Revolução de 1930.

O Brasil de outrora, que viria a ser conhecido como o da República Velha, mostravase mais acessível e consciente da importância de uma participação política mais abrangente.

Operários, estudantes e negros enxergavam um grande objetivo para se organizarem. Getúlio Vargas e seu discurso populista davam aval. O Estado varguista tinha como base para seus discursos as reivindicações dos trabalhadores da década de 1920, 3 e sua auto-imagem foi por elas construída.

O movimento político de 1930 trouxe espaço participativo para a elite branca industrial urbana e expectativas de participação para os negros.

Desde a abolição da escravatura, pouca ou até mesmo nenhuma assistência oficial havia sido dada aos ex-escravos e seus descendentes. Trabalhos valorizados e bem remunerados para negros era utopia no Brasil República. Segundo Florestan Fernandes, tal situação não era decorrente apenas pelo descaso dos brancos com os negros, era também fruto do próprio descaso entre os negros.

Uma espécie de “morte social” poderia ser observada nos negros brasileiros do final do século XIX, início do século XX. A partir do momento em que eram tratados com total descaso, a impossibilidade de ascendência social e melhoria de vida era improvável. Aos menos atentos fazia sentido a lógica da inferioridade da “raça negra”: mesmo não sendo mais escravos, comportam-se como tais por serem naturalmente inferiores ao branco.

No estado de São Paulo este cenário era ainda mais grave. O surto industrial havia gerado a necessidade de maior importação de mão-de-obra; esses imigrantes brancos ocupavam o lugar dos negros recém-libertos, ávidos pela inserção social. A crise de 1929, começada pela queda da bolsa de Nova Iorque, só viria a corroborar com as péssimas condições de vida dos negros brasileiros, principalmente daqueles atraídos pelo crescimento súbito de São Paulo.

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Fonte: PPH

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