Palestina acusa Romney de comentários racistas e odiosos

Os palestinianos acusaram o candidato republicano à presidência dos EUA de racismo depois de Mitt Romney ter sugerido que as disparidades entre Israel e as economias palestinianas têm uma explicação cultural – a terra foi escolhida pela “mão da providência”, disse. A Palestina critica igualmente o adversário de Barack Obama por não se referir durante a sua recente visita a Jerusalém à ocupação israelita da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.

Romney salientou, durante a visita de segunda-feira, que o Produto Interno Bruto (PIB) de Israel é cerca do dobro do palestiniano, o que, na sua opinião, representa uma “forte e dramática diferença” na vitalidade económica da região. O candidato disse que o PIB per capita em Israel era de 21.000 dólares, e que o PIB per capita palestiniano era de 10.000 dólares. Na realidade, de acordo com CIA, a diferença é muito maior: 31,400 dólares contra 2,900 dólares.

Romney acrescentou ainda que as suas opiniões têm por base a leitura de dois livros que terão moldado a sua opinião: um deles explica que a geografia determina o sucesso ou o fracasso de uma sociedade (“Guns, Germs and Steel”, de Jared Diamond) e o outro explica a importância da cultura numa sociedade (“The Wealth and Poverty of Nations”, de David Landes).

“Se podemos aprender alguma coisa da história económica do mundo é isto: a cultura faz toda a diferença… E é preciso reconhecer a mão da providência na escolha deste lugar”, disse Romney, citado pela Al-Jazeera.

Face a estas declarações, o negociador palestiniano Saeb Erekat, que tem estado envolvido nas conversações de paz com Israel, disse à Reuters que os comentários de Romney equivalem a uma opinião “racista que demonstra falta de conhecimento”. “Toda a gente sabe que os palestinianos não conseguem atingir as suas potencialidades máximas por causa das restrições que os israelitas impõem”, disse Erekat.

Romney não fez, porém, qualquer referência ao controlo que Israel tem sobre a maioria do território palestiniano desde 1967. Telavive controla, por exemplo, as fronteiras da Cisjordânia e permite que milhares de israelitas vivam ilegalmente em colonatos instalados em território palestiniano. Israel também vigia de forma apertada os movimentos de palestinianos que entram e saem da Faixa de Gaza.

Os palestinianos também acusam Romney de desvalorizar os esforços de paz na região ao referir-se a Jerusalém como “a capital de Israel”.

“Promover o extremismo”

“Condenamos estas declarações. Aqueles que falam numa solução de paz a dois Estados deviam saber que não poderá haver Estado Palestiniano sem Jerusalém Leste”, disse ainda Erekat. “Aquilo que este homem está a fazer aqui é apenas promover o extremismo, a violência e o ódio, e isso é absolutamente inaceitável”.

Israel apoderou-se de Jerusalém em 1967 numa manobra nunca aceite internacionalmente. Uma resolução do Conselho de Segurança da ONU condenou uma lei israelita de 1980 que declara a cidade como a capital “completa e indivisível”. Mesmo os EUA não reconheceram esta declaração de Israel e mantiveram a sua embaixada em Telavive.

Em entrevista à CNN, Romney foi porém muito claro em relação a esta questão: “Uma nação tem a capacidade de escolher a capital e Jerusalém é a capital de Israel”.

Por seu lado, um conselheiro do Presidente palestiniano Mahmoud Abbas, Nabil Abu Rdeineh, disse que as declarações de Romney não ajudam em nada, atrapalham as negociações de paz e “contradizem as posições anteriores manifestadas pela Administração americana”.

Já o secretário-geral da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) disse: “Os políticos americanos têm de abandonar a hipocrisia e parar de querer conquistar votos às custas dos direitos do povo palestiniano”.

Romney deslocou-se a Israel para se aproximar do vasto eleitorado americano de origem judaica e conseguiu arrecadar mais de um milhão de dólares para a campanha.

Durante os dois dias que esteve em Israel, Romney não se deslocou à Cisjordânia. Encontrou-se porém, ainda que brevemente, com o primeiro-ministro palestiniano Salam Fayyad.

 

 

Fonte: Publico.Pt

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