“Ainda vivemos o holocausto dos povos americanos”

Roteirista de “Terra Vermelha” compara a morte do índio protagonista do filme à de Chico Mendes e diz que o silêncio da mídia legitima a barbárie

por Clara Parada

Em 22 de dezembro de 1988, há exatos 25 anos, o líder seringueiro Chico Mendes era assassinado a tiros, a mando de fazendeiros, em sua própria casa em Xapuri, no Acre. O episódio chocou o País e expôs à comunidade internacional o destino trágico de quem lutava contra o atropelo da floresta pelos tratores do desenvolvimento econômico. Desde então, Chico Mendes se tornou símbolo da luta ambiental. Dá nome hoje, por exemplo, ao principal órgão governamental de proteção ao meio ambiente. Sua memória, porém, não evitou o destino trágico de quem abraçou seu ideário, como a missionária Dorothy Stang e o casal extrativista José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo – todos mortos em conflito com fazendeiros ou madeireiros no Pará.

Em pleno 2013, uma outra liderança ambiental engrossou a lista macabra de vítimas da insensatez: Ambrósio Vilhalva, liderança guarani kaiowá do acampamento Guyroká, em Mato Grosso do Sul. Em comum com os outros ícones da luta pela floresta, apenas a tragédia: a repercussão sobre a sua morte, ao menos na imprensa brasileira, foi quase nula. A negligência causa estranhamento: cinco anos atrás, Vilhalva inspirou e protagonizou o filme Terra Vermelha, premiada co-produção italiana e brasileira dirigida por Marco Bechis e inspirada em uma reportagem de CartaCapital sobre a tragédia kaiowá.

O longa ganhou o mundo e lançou olhares sobre a questão indígena no Mato Grosso do Sul, onde os guaranis kaiowás lutam para permanecer em suas terras ancestrais e são constantemente confinados, física e psicologicamente, pela pressão das máquinas e das armas do agronegócio. A precariedade da situação levou Vilhalva à depressão, ao álcool e à discussão com os próprios índios, responsáveis, segundo a versão oficial, por seu assassinato.

Roteirista de Terra Vermelha, Luiz Bolognesi, que conviveu com Vilhalva durante e após as filmagens, comenta, em entrevista a CartaCapital, o descaso do País em relação à tragédia humana e social que levou o líder indígena à morte.

Bolognesi compara o assassinato de Vilhalva ao de Chico Mendes. Para ele, o Brasil não consegue evitar o holocausto permanente dos povos indígenas porque está preso à lógica do mercado e da omissão dos próprios meios de comunicação. O roteirista conta que tinha planos de produzir outro filme a partir da realidade guarani kaiowá e lamenta não ter tido oportunidade de reencontrar Vilhalva a tempo de retomar o projeto. “Como cineastas, nosso papel é expor a situação e criar um debate. Mas não temos como evitar a tragédia”. Confira a entrevista no vídeo abaixo:

 

 

Fonte: Carta Capital

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