As presidenciáveis e seus problemas: deixa o trem arder

Por Fátima Oliveira

As disponíveis na praça são todas mulheres difíceis

O título é inspirado num livro que li em meu tempo de Colégio Colinense: “A Moça e seus Problemas” (Haroldo Shryock). Era leitura compulsória para “as meninas da Casa do Estudante”. Datado de 1954, é uma lavagem cerebral contra os prazeres do parque de diversão que é o nosso corpo. Odiei. Desde sempre, curto estados de paixão, ao contrário das moças de fino trato. Pula!

As presidenciáveis da praça são, todas, mulheres difíceis – que mandam em suas vidas. Gosto! “Pero”, estou de tocaia. Matutando. Há homens amigos das mulheres e mulheres inimigas das mulheres. É assuntar. Deixei de votar em quem criminaliza o aborto e em quem fica em cima do muro, tucanamente, como Lula, em quem sempre votei. Nada mais plumagem de tucano do que Lula no tema aborto. Dá uma no cravo e outra na ferradura. Enchi, mas é o melhor governo da República. Fecha!

Já disse: “Outros temas polêmicos para uns e malditos para outros, que considero relevantes para o debate eleitoral, são: questões pertinentes à plena cidadania de gays, lésbicas e travestis; políticas de ação afirmativa e nelas, as cotas étnicas; e a legalização do aborto, inserida numa perspectiva de justiça social e de ampliação da democracia num Estado laico”. (Contra a vida das mulheres, 4.9.2006). Vou por aí. Valorizo muito meu voto.

E os problemas das presidenciáveis? Todas no fundo do poço da falta de carisma (“dom da graça”). Nenhuma dotada de soft power, o mesmo que chamávamos de élan: aquele apelo de algo mais que enternece e convence as massas – que Lula e Obama têm de sobra. O ar de vestal não basta. Rapapé de Maria Bonita também não. E a honradez, embora indispensável, sozinha não carreia votos.

Heloísa Helena? Ignoro. Não gasto latim com quem desde sempre é contra as mulheres. Marina Silva? Desabrocha como a salvação da lavoura. Erro crasso. Vamos dar a Marina o que é de Marina. Ambientalista reconhecida; senadora mediana; ministra de conveniência (para o governo) e tão-somente inodora na queda de braço dos transgênicos. Deveria ter deixado o governo naquele momento. Por que ficou?

Para uma amiga comum, vê-la apenas criacionista e fundamentalista é pouco para quem “no ministério criou uma sala de oração (será?! Incredulidade minha). Mais um exemplo de misturar o público com o privado. Vai pegar na onda do Obama”. O mérito dela é ter sacudido o debate eleitoral, não pela esperada religiosidade ambientalista, e sim por ter assumido, enfim, que é negra! Obama explica. É o “se colar, colou”.

Dilma Rousseff? Ungida por Lula, em seu estilo arisco a la Maria Moura, agora amaciado pela doença (não há mal que não traga um bem!), cultiva o abominável hábito de “A” tesoura do mundo (apostila da Socila faz falta!), vem embalada no nacionalismo do pré-sal, na proa do discurso desenvolvimentista com os paetês do bem-estar social (Bolsa Família, que defendo) e uma tintura ecológica de último segundo (no horizonte um PAC ambiental – não há mal que não traga um bem!). Nada perto do “Pensar global e agir local”. Um mérito: não escorrega na defesa dos direitos das mulheres.

Minha maior dificuldade com ela: a postura imperial no episódio ministra Matilde Ribeiro. Num tribunal, igual à Santa Inquisição, crucificou a negra! Porém convive, sem dar um pio, com célebres correligionários sabidamente sociopatas e não ousou abater nenhum em voo. Qual é a dela? E haja PAC para sanear o mangue de mágoas. Deixa o trem arder… Quem sabe das cinzas emergirá uma fênix! Aguardo a fênix.

Matéria original

+ sobre o tema

Operação resgata 12 pessoas em condições análogas à escravidão

A Polícia Federal (PF), em parceria com o Ministério...

A saga de uma Nobel de Economia pelo ‘Pix do desastre climático’

Mesmo com seu Nobel de Economia conquistado em 2019,...

Vitória da extrema direita na França afetará guerras, Mercosul e clima

Uma vitória da extrema direita ameaça gerar um profundo...

para lembrar

Potências que vêm da periferia precisam ocupar espaços de poder

Na publicação "Equidade Racial: Desafios no Brasil Contemporâneo", do...

Indicação de juíza assusta conservadores

"A juíza Sotomayor é uma ativista judicial esquerdista...

Em artigo, Lula defende candidatura de Graziano à FAO

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou,...

Extrema direita francesa choca com slogan: ‘Dar futuro às crianças brancas’

O avanço da extrema direita na França abre caminho para campanhas cada vez mais explícitas em seu tom xenófobo. Nesta semana, um dos grupos...

Supremocracia desafiada

Temos testemunhado uma crescente tensão entre o Poder Legislativo e o Supremo Tribunal Federal. Essa tensão não decorre, no entanto, apenas do ressentimento de...

Na USP, professor deixa legado de R$ 25 milhões – e um recado às elites

Stelio Marras é professor e pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e construiu toda sua carreira acadêmica na Universidade de São Paulo (USP), da graduação...
-+=