Benedita da Silva e a defesa da luta das mulheres negras: “Nós parimos este país”

“Nós mulheres negras fomos estupradas para parir o Brasil, depois fomos abandonadas, jogadas de lado, e agora querem cobrar de nós meritocracia, depois que não nos deram nenhuma oportunidade, então onde nós chegamos foi porque lutamos, principalmente a mulher negra”

Do RevistaForum

Deputada Benedita da Silva, mulher idosa negra de cabelo curto e cacheado, vestindo um casaco marrom.
Deputada Benedita da Silva (Foto: André Coelho / Agência O Globo)

A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) realiza viagem à Europa, onde participa de eventos e palestras. Durante essa turnê, ela conversou com um grupo de brasileiros e portugueses, em debate organizado pelo Núcleo do PT em Lisboa, e falou sobre a luta das mulheres negras, dos movimentos sociais e culturais contra as medidas antidemocráticas impostas pelo governo de Jair Bolsonaro.

Durante o encontro, Benedita foi entrevistada pelo site HedflowTV, e defendeu a luta das mulheres pelos direitos que estão em risco com as reformas propostas pelo atual governo: “Nós parimos este país, nós mulheres negras fomos estupradas para parir o Brasil, depois fomos abandonadas, jogadas de lado, e agora querem cobrar de nós meritocracia, depois que não nos deram nenhuma oportunidade, então onde nós chegamos foi porque lutamos, principalmente a mulher negra”.

Sobre o PT, Benedita acredita que o partido “costuma ser antropofágico, e quer buscar sempre a autocrítica, e eu como mulher negra não pretendo continuar nesse jogo de ficar me chicoteando pelos erros passados, se errou, aprende com o erro e vira a página, senão a gente perde de vista as coisas boas que nós fizemos também”.

Com relação ao momento da esquerda como um todo, a deputada acredita que “o trabalho de unir as esquerdas não é uma coisa fácil, é preciso respeitar o momento de cada um, mas sabendo que nós temos um propósito, e que temos que estar juntos para defender essas ideias”.

Evangélica, Benedita da Silva também falou sobre como a esquerda brasileira, de uma forma geral, deveria se aproximar mais dos setores religiosos: “Eu não posso pegar alguém que não conhece o linguajar dentro de uma igreja evangélica e levar pra fazer sobre o PT, não vou ouvir! Vai lá alguém que converse de igual para igual. E também tem a questão do povo de terreiro, que está sendo perseguido no Rio, por grupos que não têm respeito pelo sagrado do outro. E é isso que a gente precisa fazer, ensinar que quem não respeita o sagrado do outro faz com que os outros não tenham respeito pelo seu. Então devemos fazer com que a mulher crente converse mais com o babalorixá, e que ambos entendam que precisam se defender mutuamente”.

A ex-senadora e ex-secretaria de Assistência e Promoção Social durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva também falou contra a reforma da Previdência desenhada por Paulo Guedes: “Essa reforma representa a volta da escravidão, eu já saí do tronco e não pretendo voltar, já tenho 77 anos e não vou voltar ao tempo das chicotadas, não vou”.

Em outro momento importante da entrevista, Benedita afirma que “enquanto eu tiver suor, enquanto Deus me der vida e saúde, eu vou lutar pelo meu país, porque eu acredito nele, sei do seu potencial, e sei sobretudo de onde eu saí, e não foi de um lugar bom, e vou lutar pra que outros não tenham que terminar naquele lugar em que eu estive”.

 

+ sobre o tema

Parlamento do Uruguai aprova direitos a transexuais

A Câmara de Deputados do Uruguai aprovou, em decisão histórica, a...

O impacto da menopausa na vida financeira das mulheres

O climatério, fase que vai da transição do período...

Aumentam em 17% crimes racistas, antissemitas e homofóbicos nos EUA

Estatísticas do FBI são referentes ao primeiro ano da...

para lembrar

Femininas às escondidas, crossdressers relatam medos e prazeres de vida dupla

Homens que se vestem como mulheres na intimidade chegam...

Congresso dos EUA bate recorde de representatividade LGBT

Dos 534 integrantes votantes do 118º Congresso dos Estados...

Eu escolhi não julgar

O jogador David Luiz escolheu esperar. Foi só a notícia...

João Antônio morreu para que ninguém soubesse que seu assassino é gay

O caso do garoto João Antônio, assassinado essa semana...
spot_imgspot_img

Elogio ao estupro e ódio às mulheres

Nem sempre é fácil dizer o óbvio. Mesmo porque, quando essa necessidade se impõe é fundamental entender as razões que estão por trás dela. Mas...

Angela Davis: “O desafio é manter a esperança quando não vemos sinais”

Angela Davis, filósofa professora americana, é como uma estrela de rock do ativismo pelos direitos humanos e do movimento negro. Sua popularidade atravessa gerações...

IBGE: mulheres assalariadas recebem 17% menos que os homens

Dados divulgados nesta quinta-feira (20/06) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a disparidade salarial entre os gêneros no Brasil se mantém em...
-+=