Brasil amplia presença nos países africanos de língua portuguesa

Autor: Alexandre Schossler

 

Presença das novelas da Globo nos países africanos de língua
portuguesa é só o lado visível de um fenômeno que tem também aspectos
econômicos e políticos: o crescente interesse do Brasil pelas
ex-colônias de Portugal.

 

Quem anda pelas ruas de Maputo, capital de Moçambique, pode facilmente
ouvir jovens usando gírias tiradas de novelas da Globo, como “Eu sou
chique, bem!” e “Tá podendo!”.

 

Nas bancas de jornais de Luanda, capital de Angola, revistas
especializadas em televisão estampam atrizes brasileiras na capa, como
Taís Araújo e Juliana Paes.

 

Também em Luanda é fácil encontrar franquias de redes populares no
Brasil, como Bob’s, Mundo Verde e O Boticário. Isso sem falar nos
templos da Igreja Universal do Reino de Deus, presente em todos os
países africanos de língua portuguesa.

 

As novelas da Globo, as lanchonetes do Bob’s e os templos da igreja de
Edir Macedo são apenas a face visível de um fenômeno relativamente
recente: a crescente presença brasileira nas antigas colônias
portuguesas na África. Além do visível aspecto cultural, essa presença
possui um viés econômico e outro político.

 

Relações econômicas priorizam Angola e Moçambique

 

O lado econômico é especialmente forte na relação com Angola – cuja
independência, em 1975, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer.
Apenas quatro anos depois, a Petrobras chegava ao país africano, hoje
o terceiro maior produtor de petróleo da África.

 

Mas, segundo o site da petrolífera, foi só recentemente – a partir de
novembro de 2006 – que a empresa passou a atuar de forma mais
agressiva em Angola, como operadora em três blocos de exploração de
petróleo.

 

Também forte em Angola é a Construtora Norberto Odebrecht, que está no
país desde 1984, quando iniciou a construção da hidrelétrica de
Capanda, com capacidade de geração de 520 megawatts.

 

Hoje a empresa atua em diversos setores, como a construção de rodovias
e em projetos de pavimentação, saneamento e urbanização, empregando
mais de 24 mil pessoas.

 

“As relações do Brasil com Angola são muito mais intensas e muito mais
antigas”, afirma o sociólogo alemão Gerhard Seibert, do Centro de
Estudos Africanos de Lisboa. “Mas Moçambique também desempenha um
papel econômico cada vez maior.”

 

Na província de Tete, no centro de Moçambique, a mineradora brasileira
Vale está investindo 1,3 bilhão de dólares para extrair carvão de uma
das maiores minas não exploradas do mundo. A produção anual deverá
chegar a 11 milhões de toneladas a partir de dezembro de 2010 e
empregar 1,5 mil pessoas. O contrato foi assinado em 2007.

 

Brasil busca papel maior no cenário internacional

 

No aspecto político, Seibert vê uma clara mudança na política
brasileira para a África com a chegada à presidência de Luiz Inácio
Lula da Silva em janeiro de 2003.

 

Lula foi o presidente brasileiro que mais viagens fez à África – foram
dez até o final de 2009, incluindo todos os países de língua
portuguesa, alguns mais de uma vez. Também no seu governo, o número de
países africanos nos quais o Brasil possui representação diplomática
passou de 18 para 34.

 

Na opinião de Seibert, essa valorização da África na política externa
brasileira segue objetivos econômicos: a busca de mercados para
produtos e empresas brasileiras e a garantia de matérias-primas.

Mas há, também, objetivos políticos: “As relações com a África fazem
parte de uma política externa que tenta dar um papel maior ao Brasil
no contexto internacional, e isso inclui a ambição de ter um assento
permanente no Conselho de Segurança da ONU”.

 

Para o especialista, a África é só uma parte da política externa “mais
expansiva” adotada pelo governo Lula. Ela inclui ainda a maior
presença do país em fóruns internacionais como o G20 ou as reuniões
com os países BRIC (Rússia, Índia e China).

 

Já Lula apresenta sua política africana como o pagamento de uma
dívida, afirmando que o Brasil tem um compromisso moral e ético com o
continente, uma referência ao passado escravagista brasileiro. O
presidente gosta de repetir que o Brasil é o país com a maior
população negra fora da África.

 

Estudar no Brasil

 

As frequentes visitas à África trouxeram popularidade a Lula no
continente, o que, somado ao mundo idílico apresentado em várias
novelas televisivas, acaba por reforçar uma imagem positiva do Brasil.

“A imagem que temos do Brasil é muito boa, até porque a mídia que vem
do Brasil são as novelas”, conta o universitário são-tomense Edileny
Lima de Souza, que estuda administração de empresas na PUC em Porto
Alegre.

 

O guineense Francisco Ialá, que cursa Direito na mesma universidade,
diz que também no seu país a imagem do Brasil é muito boa. “As novelas
que mais passam na Guiné-Bissau são as brasileiras. Toda a cultura
brasileira influencia a Guiné-Bissau.”

 

Ambos encontraram um Brasil diferente do que aquele que conheciam pela
televisão. “As novelas brasileiras não retratam a situação como ela é.
É mais glamour, praia e coisas boas, sem os problemas de
infraestrutura, desigualdade e preconceito. São coisas que eu
vivenciei e não esperava”, diz Edileny

 

Edileny e Francisco estão entre os quase 4 mil africanos selecionados
para estudar no Brasil entre os anos de 2000 e 2009. Eles receberam
uma bolsa de estudos do programa PEC-G, do Ministério das Relações

Exteriores.

 

Na África, os principais beneficiados pelo programa são os países de
língua portuguesa, Cabo Verde e Guiné-Bissau à frente. A maioria dos
estudantes volta ao seu país de origem. Estudar no Brasil é algo comum
entre os cabo-verdianos – até o primeiro-ministro do país, José Maria
Neves, estudou na Fundação Getúlio Vargas (FGV) nos anos 1980.

Para Edileny e Francisco, o Brasil desempenha um importante papel no
ensino superior. “Para os países lusófonos em desenvolvimento, o
Brasil desempenha um papel importante na formação de quadros
profissionais”, diz Edileny, que afirma: “Volto para São Tomé porque
quero ajudar meu país a crescer.”

 

 

Fonte: Lista Mulheres Negras

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