Bruxas, Dilma e a República de homens brancos

Sérgio Martins

Mallus Maleficarum escrito pelo inquisidores em 1484, de forma minuciosa descreve a aliança realizada entre as mulheres e o diabo, a fim de impor através da bruxaria malefícios à humanidade. As mulheres são descritas como seres mais fracos ” na mente e no corpo”, criadas a partir de uma costela recurva de Adão, em virtude dessa falha a mulher seria um “animal imperfeito”. Portadores de três vícios: a infidelidade, a ambição e a luxúria estariam mais propensas ao acordo com agentes extra-humanos para manipularem os homens e seus desejos. Portanto, as bruxas deveriam ser denunciadas, torturadas e condenadas á morte para o bom funcionamento da sociedade.

O fato de não contarmos mais com um discurso teológico ou naturalista sobre a inferioridade das mulheres, não implica necessariamente, que as estruturas de poder e seus agentes comungam com a participação das mulheres nestes cenários, a partir de uma outra compreensão ou forma de fazer que não seja patriarcal.

Certo que na história moderna não faltam exemplos do exercício do poder, reproduzindo uma lógica machista e violenta, real e simbólica, de ações que relegam as mulheres um papel secundário no cenário da vida social. Em alguns casos como uma enorme manifestação de intolerância com o “falar feminino”, conduzindo, até a morte violenta como forma de fazer calar aquele incômodo.

No Brasil, assistimos um momento especial, onde uma mulher com histórico revolucionário preside o país, tendo origem comum em uma experiência de esquerda ao lado de outras mulheres que se destacaram na vida política nacional, tais como Luiza Erundina, Marta Suplicy, Marina Silva, Benedita da Silva. O desafio pela frente é monstruoso, uma vez, que a concentração de renda ao lado da miséria de negros, mulheres e crianças partilham a agenda de país em desenvolvimento com altos lucros de bancos privados, grandes coorporações, entre elas a Petrobrás.

Dilma incomoda ao assumir um claro discurso e ações de proteção da coisa pública contra a corrupção, se mostrando intolerante com tais praticas no interior do seu governo. Contrariando, uma lógica de preservação do poder baseadas em alianças com partidos fisiológicos celebrados para alcançar o governo, a mãe do Pac, vai se transformando em Madrasta dos herdeiros do pacto eleitoral. A síndrome da madrasta má faz surgir no cenário, espaço para atuação da fada madrinha, ou seja, um poder invisível que reorganiza os arranjos desfazendo “as maldades” e fazendo com que “os desprotegidos” encontrem o príncipe se case com ele e seja feliz para sempre.

Na política o silêncio escultural denuncia profundas conturbações no interior do cenário politico. O silencio público dos interlocutores do partido no governo e suas lideranças é notório, estranho em um governo de centro-esquerda, cuja a característica anterior foi a descentralização e o diálogo com demais setores do poder político. Na mídia, ao lado da presidente Dilma, apenas o mago do controle dos especuladores internacional “Guido Mantega” dá o tom da política nacional. Nos demais cenários, a invisibilidade dos interlocutores deixam a presidente fragilizada, necessitando, a cada grita e ameaça dos opositores, vir a público e prometer voltar a trás como no caso do quite contra homofobia e o segredo das licitações para copa, posteriormente contornados.

O governo que deu origem a vitória de Dilma, foi marcada por quatro pontos importantes: crescimento econômico, repartição de renda, interlocução internacional e consenso das forças internas. Lula aprendeu na escola sindical, que enquanto formos capitalistas, o único caminho é da negociação, dentro de um cenário agudo de contradições e correlação de forças, não há guerra sem mortes, nem negociações sem compromissos. Por outro lado, a corrupção nos governos tem suas origens nos partidos políticos e na lógica de manutenção do poder político, assim, o foco do enfrentamento do desvio público, também se encontra no debate da reforma política e no financiamento das campanhas políticas. Não foi a toa, que partidos conservadores saíram a frente e lançaram campanha carismática na mídia contra o financiamento público das campanhas eleitorais.

A república dos homens brancos, no governo central sempre foi espaço de negócios privados, como bem dizia Joaquim Nabuco. Os interesses das grandes empresas nos negócios palacianos fazem parte da história da República e do próprio Congresso Nacional, que sempre abrigou homens de negócios ou seus apadrinhados. Como dizia minha avó, o ajuste tem que ser “um no cravo outro na ferradura”. Assim, a presidente não pode se afastar dos debates sobre as reformas necessárias neste país, o que deve fazer através de suas lideranças partidárias.

A contradição que Dilma enfrentará em seu mandado está na própria contradição do Estado Nacional formada sem participação popular, com profundas raízes no fisiologismos e na corrupção. Assim, ela não poderá desdenhar de seus aliados políticos, até porque, ainda não estabeleceu um fala direta com o eleitor, que no governo anterior se sentia representado na figura do presidente, principalmente no êxito do nordestino retirante sobre os homens brancos da República brasileira e seus engenhos.

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