Casos de racismo no Airbnb põem em xeque economia colaborativa

A proposta do Airbnb é simples: unir quem quer alugar a casa por uma temporada a alguém à procura de um lugar. Mais complicado é impedir que essa plataforma virtual seja usada para promover um apartheid na vida real, no qual visitantes são rejeitados com base na cor da pele.

Por ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, da Folha de S.Paulo 

A campanha #AirbnbWhileBlack (Airbnb quando se é negro) se popularizou na internet com a dificuldade de usuários para selar contratos. Quem ligou os pontos foi Quirtina Crittenden, 23, consultora empresarial em Chicago e criadora da campanha.

Após vários “nãos”, Quirtina, que é negra, retirou seu retrato do serviço e abreviou seu nome, tipicamente afro-americano, para Tina. A aceitação disparou.

Seu caso não é ponto fora da curva, mostra pesquisa de Harvard. Com dois colegas, Benjamin Edelman enviou 6.400 pedidos para anfitriões em cinco grandes cidades, como Dallas e Los Angeles.

O trio forjou 20 perfis falsos (sem imagens), com dez nomes associados a brancos (Laurie, Brad) e dez a negros (Latoya, Tyrone).

Em média, afro-americanos receberam “sim” em 42% dos casos, e brancos, em 50%.

DESABAFO

Nas redes sociais, a clientela esnobada desabafa.

Uma usuária chamada Shani publicou no Twitter a resposta que uma amiga recebeu ao tentar fechar negócio com um homem branco: “Odeio pretos, então vou ter de cancelar com você. Aqui é o sul [dos EUA], querida”.
A discrepância põe em xeque a autorregulamentação na economia colaborativa.

O Airbnb, diz Eldeman, teria como criar mecanismos para obstruir o preconceito. “A solução é esconder informações raciais [como fotos e nomes]”, afirmou à Folha.

Críticos dizem que nem todo mundo fica confortável em abrir a casa a um estranho sem ver a cara dele, receio que não necessariamente tem motivações raciais.

Enquanto isso, surgem serviços aos que se sentem desdenhados, como o Innclusive, trocadilho com “inn” (hospedaria) e inclusão.

Em carta, o presidente do Airbnb, Brian Chesky, promete não repetir “erros passados”. O estudo de Harvard, porém, parece não ter agradado: Eldeman diz que o Airbnb baniu o trio de pesquisadores após o estudo.

“Terminou até com minha conta pessoal.” O veto só foi revertido após aFolha entrar em contato com a empresa.

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