Censo 2022: taxa de analfabetismo entre pretos e pardos é mais que o dobro da registrada entre brancos

Enquanto o índice de pretos e pardos que não sabem ler e escrever é de 10,1% e 8,8%, respectivamente, o percentual entre pessoas brancas é de 4,3%

FONTEO Globo, por Pâmela Dias
Foto: Dione Afonso/ Agência O Globo

A taxa de analfabetismo entre a população negra é mais do que o dobro da registrada entre os brancos. Enquanto o índice de pretos e pardos que não sabem ler e escrever é de 10,1% e 8,8%, respectivamente, o percentual entre pessoas brancas é de 4,3%. Os dados são do Censo 2022, divulgado nesta sexta-feira (17) pelo IBGE.

Em 2022, o país registrou uma queda na taxa de analfabetismo em todos os grupos por cor ou raça. No entanto, a vantagem no percentual de alfabetizados da população branca e amarela em relação às populações preta, parda e indígena foi observada para todos os grupos etários analisados.

Para as pessoas com até 34 anos de idade, a taxa de analfabetismo entre brancos e amarelos é menor do que 2%. Esse percentual só foi superado a partir do grupo de 35 a 44 anos — no qual 2,2% das pessoas não sabem ler e escrever —, e ficou acima de 5% entre brasileiros com 55 anos ou mais.

Em contraste, entre as populações preta ou parda, embora a taxa de analfabetismo tenha sido inferior a 2% para os grupos etários com até 24 anos de idade, ela atingiu valores acima desse percentual já na faixa etária seguinte — de 25 a 34 anos —, com 2,4% da população sem conhecimento de gramática.

No grupo etário de 35 a 40 anos, o índice de quem não sabe ler e escrever fica acima de 5%.

Maior discrepância entre idosos

A maior discrepância aparece entre os idosos com 65 anos ou mais. Enquanto a taxa de quem não sabe escrever é de 33% para pretos e 29% para pardos, o percentual para brancos é de 12,1%.

De acordo com a especialista em educação Claudia Costin, ex-diretora global de educação do Banco Mundial, a disparidade na alfabetização entre brancos e negros se deve à falta de políticas voltadas ao acesso e permanência desse grupo populacional nas escolas.

— Os dados mostram que houve uma evolução já esperada, mas que ainda é muito desigual e precisa ser equiparada. Uma das explicações para essa discrepância na alfabetização é justamente o fracasso nas políticas específicas de ensino. A partir do Censo, os governos precisam estudar as áreas mais críticas e os fatores que impedem o acesso à educação e criar programas que atendam esses brasileiros — explica.

Ainda segundo Costin, o fato de o maior índice de analfabetismo estar entre pessoas mais velhas é resultado de uma política de universalização da educação primária tardia no Brasil.

— Estamos pagando um preço alto por conta da demora em universalizar o acesso à educação primária. Em 1930, apenas 21% dos brasileiros estavam alfabetizados, enquanto na Argentina esse número já era de 63%. Ao final dos anos 1960, quando o acesso já era mais democratizado ao redor do mundo, no Brasil tínhamos uma taxa de 40% sabendo ler e escrever — avalia a especialista.

93% dos brasileiros sabem ler e escrever

O Censo 2022 mostrou que a taxa de alfabetização entre os brasileiros, independente de cor ou raça, é de 93%. Isso significa dizer que entre as 163 milhões de pessoas de 15 anos ou mais de idade, 151,5 milhões sabem ler e escrever um bilhete simples e 11,4 milhões não sabem.

Os últimos dados apontaram que o analfabetismo caiu 2,6 pontos percentuais em relação ao Censo de 2010. Naquela época eram 9,6% da população sem saber ler e escrever, enquanto agora o percentual é 7%. Há 82 anos, dados do IBGE apontavam um Brasil ainda mais sem instrução: menos da metade da população (44%) era alfabetizada.

O IBGE considera alfabetizadas as pessoas que sabem ler e escrever pelo menos um bilhete simples ou uma lista de compras, no idioma que conhece, independentemente de estar ou não frequentando escola ou de ter concluído períodos letivos. Também é levado em consideração indivíduos que utilizam o Sistema Braille e que tinham habilidade para a leitura ou escrita, mas se tornaram fisicamente ou mentalmente incapacitados.

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