Comparado a um saco de carvão pelo chefe, vítima de racismo revela: “Ele disse para eu aceitar”

Assistente de importação deve ser indenizado em R$ 7.500 em Belo Horizonte

no R7

Alvo de agressões racistas do próprio chefe, que usou o email da empresa para compará-lo a macacos e sacos de carvão, Luis Gustavo Ferreira, de 28 anos, ganhou na Justiça o direito de receber R$ 7.500 em indenização por injúria racial em Belo Horizonte.

A empresa Ventana Serra, do setor de comércio exterior, foi condenada a pagar o valor ao ex-assistente de importação e exportação, que pediu demissão em 2013 por não suportar as agressões.

— O clima de trabalho era descontraído, mas ele começou com “brincadeiras” que eu não achava adequadas. Ele mandava foto de saco de carvão, chimpanzé, me comparava com um seriado em que o personagem se dava mal por ser negro. Uma vez pedi para ele parar e ele disse que eu tinha que parar de chorar e aceitar, que da mesma forma que ele me contratou, podia me demitir.

Na ação, a empresa afirmou que o autor da injúria não era o chefe direto e alegou que o funcionário pediu demissão porque conseguiu um emprego melhor. O Tribunal Regional do Trabalho não concordou. Ferreira explica porque não procurou a diretoria da empresa.

— Eu era ex-militar, não tinha experiência fora do quartel e precisava do emprego. Como ele tinha cargo de chefia, a corda ia arrebentar no lado mais fraco. Depois de um ano, pedi demissão e dei sorte de conseguir algo duas semanas depois.

Procurada pelo R7, a Ventana Serra não enviou resposta até a publicação desta reportagem.

Emails foram decisivos

O advogado Bruno Leonardo Machado, que defendeu a causa, elogia a decisão da Justiça.

— Questões envolvendo racismo são muito difíceis de provar, porque é comum não existir uma prova concreta da humilhação. Nesse caso, no entanto, a gente tinha os emails que mostravam a discriminação.

Luis Gustavo Ferreira se sente recompensado.

— É um absurdo sermos submetidos a essa situação. Tenho muito orgulho do que sou e da cor da minha pele. Espero que sirva de exmplo para que casos como esse sejam extintos.

A indenização de R$ 7.500 foi fixada em primeira instância. A empresa e o ex-funcionário recorreram e o valor foi mantido pelo Tribunal Regional do Trabalho. A decisão foi divulgada nesta quinta-feira (23).

+ sobre o tema

Liliam Thuram: Itália é racista

Ex-jogador da seleção francesa se solidariza com Mario...

Entenda como assassinato de jovem negro há 10 anos resultou no Black Lives Matter

O assassinato a tiros do adolescente negro ​Trayvon Martin...

Lázaro Ramos causa alvoroço na Marcha contra Genocídio do Povo Negro em Salvador

Por: Marivaldo Filho O ator baiano Lázaro Ramos participou, na...

As mães ‘órfãs’ de filhos que o Estado levou

Em plena democracia, policiais matam cidadãos e não assumem...

para lembrar

O futebol desconstrói o mito da democracia racial

Discriminação contra negros em um ambiente convidativo ao preconceito...

“Alguns promotores apoiam o extermínio de ‘indesejáveis”

Para ela, o Ministério Público tem como clientela "indesejada"...
spot_imgspot_img

OAB suspende registro de advogada presa por injúria racial em aeroporto

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) suspendeu, nesta terça-feira (25), o registro da advogada Luana Otoni de Paula. Ela foi presa por injúria racial e...

Ação afirmativa no Brasil, política virtuosa no século 21

As políticas públicas de ação afirmativa tiveram seu marco inicial no Brasil em 2001, quando o governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho sancionou...

Decisão do STF sobre maconha é avanço relativo

Movimentos é uma organização de jovens favelados e periféricos brasileiros, que atuam, via educação, arte e comunicação, no enfrentamento à violência, ao racismo, às desigualdades....
-+=