“Dear White People” é a série necessária para um homem branco como eu

A nova produção da Netflix promove uma reflexão sobre o racismo em meio a diversas risadas

Foto: Reprodução Netflix

Por Luiz Prisco Do Metrópoles

Dear White People” (“Cara Gente Branca, em português), novidade da Netflix, é uma comédia, mas às vezes dá vontade de chorar. O seriado joga na cara o racismo, sem papas na língua. E, confesso, serviu como uma espécie de divã para mim, um homem branco “desconstruidão”.

Não acho que seja um racista clássico, aqueles lunáticos que xingam os outros. O seriado me ajudou a perceber um racismo escondido na omissão, no silêncio diante do absurdo. Antes de continuar a falar da série, vou contar uma história.

Há três anos, estive no Morumbi para assistir São Paulo x Sport. Eu, são-paulino, fui ao estádio de bermuda e blusa do time. Enquanto esperava os portões abrirem, vi dois rapazes negros tomarem o maior baculejo. Policiais os abordaram, eles vestidos de shorts e camisetas do tricolor. A mim, ignoraram.

Foto: Reprodução Netflix

Esse episódio, ao menos para mim, reforça o tal do privilégio branco. A prerrogativa de poder ir a um estádio sem tomar um baculejo ou não ser seguido pelo segurança da loja. “Dear White People” mostra o quanto isso está presente invisivelmente na minha vida e, extremamente visível, no cotidiano de negros e negras.

LUIZ PRISCO

O grande mérito da produção é contar isso na forma de uma comédia densa, capaz de arrancar risadas e fazer refletir. Por que dói tanto ouvir que sou privilegiado por ser branco? Qual a razão de eu não me fantasiar de negro? Como “piadas” (ao estilo Rafinha Bastos) podem ofender?

Produção boa
Além de toda a reflexão, “Dear White People” é uma série de televisão muito bem-feita. Roteiro, elenco e produção entregam um produto gostoso de ver e, com episódios de 30 minutos, é daquelas séries para assistir em uma sentada só.

O arco dos personagens também é bem construído, mesmo que nos primeiros episódios a história fique um pouco repetitiva. Nada que prejudique a experiência.

leia também: 

Jogo do Privilégio

Este professor explicou perfeitamente como funciona o privilégio

Pessoas Brancas Falam sobre Privilégio Branco

Comediante se passa por bêbada e vende drogas a polícia para provar que brancos têm privilégios

+ sobre o tema

‘Falou que preto não usa tênis de marca’, diz jovem agredido no Piauí

Mateus Rodrigues de Sousa, 20 anos, teve o nariz...

Professora presta depoimento sobre aluna xingada de ‘preta horrorosa’

Mãe da criança e a diretora da escola também...

Empresário critica aviso de Platini a Balotelli

Mino Raiola entende que o presidente da UEFA...

para lembrar

Seleção inglesa cria novo código de conduta a atletas

  Cansados das constantes polêmicas extracampo em que os jogadores...

Acórdão do TRF-4 revela o nome do professor da Ufrgs condenado por racismo

Humberto do Adami ÍNTEGRA DO ACÓRDÃO DO TRF-4 APELAÇÃO CÍVEL Nº...

Carrefour diz ter interesse em apuração de violência racista

Fonte: Afropress - S. Paulo - O Supermercado Carrefour afirmou...
spot_imgspot_img

OAB suspende registro de advogada presa por injúria racial em aeroporto

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) suspendeu, nesta terça-feira (25), o registro da advogada Luana Otoni de Paula. Ela foi presa por injúria racial e...

Ação afirmativa no Brasil, política virtuosa no século 21

As políticas públicas de ação afirmativa tiveram seu marco inicial no Brasil em 2001, quando o governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho sancionou...

Decisão do STF sobre maconha é avanço relativo

Movimentos é uma organização de jovens favelados e periféricos brasileiros, que atuam, via educação, arte e comunicação, no enfrentamento à violência, ao racismo, às desigualdades....
-+=