Tirar o véu que nos protege. Mostrar-se para o que ainda não conhecemos. Certo que o perigo pode morar, mas não sempre. Muitas vezes, o que habita nas pessoas e nos processos que todavia não nos foram apresentados é uma oportunidade, ou ao menos, uma potencialidade. Se somente lidamos com o já experimentado e aprovado, a vida vai derrapando num não sentido.
Sei que é mais fácil falar do que fazer. Mais simples diagnosticar do que curar. Sei que é legítimo o cansaço em iniciar novas empreitadas. Também sei que o Waze e o GPS só são capazes de nos guiar no trânsito. Eles não nos ajudam quando tentamos mudar de emprego, de ramo, de pensamento. Ainda não inventaram um aplicativo para as decisões íntimas e profundas.
Desvelar-se é tirar a roupa de dentro. É striptease da alma, indicada para encontros em que precisamos nos encarar em detalhes. Conferir no espelho o medo, a covardia, o frágil em nós. Mas também confirmar o destemor, a coragem, o forte em nós. Porque somos feitos do nada e do tudo, do esquerdo e do direito.
E por mais que frequentemos festas, redes sociais, domingos no parque, passeios pela Av. Paulista, tem uma hora que estamos sós, num cara a cara com a gente mesmo. A hora, fora dos relógios e dos calendários, em que perguntamos: O que eu estou fazendo da minha vida? É isso mesmo que eu quero?
Como a imagem de um navegante que aprendeu tudo sobre a rota useira e vezeira, mas que acorda numa manhã sonhando a ventura que seria deslizar o barco em águas-além. Por que não? Se ele muito sabe dos ventos, calmarias, bancos de areia, ressacas, talvez as águas novas não sejam tão assustadoras.
Lançar-se no não visto, não trilhado, não controlado é decisão de cada qual. Mas tenho observado a sabedoria de pessoas mais velhas que se perguntam: Afinal por que não tentar me desvelar? Por que não arrancar a máscara que me prende a coisas que deixei de acreditar faz tempo? Por que insistir no mais do mesmo? Por que o temor da mudança?
Talvez para elas – e para mim também – tenha chegado a oportunidade de ouvir o silêncio que tem nos sons, ler o não escrito que há nos textos, ver a cor branca que está em todas as cores. Pois não é o ponto de largada e nem o porto de chegada o mais interessante. Valorosa é a viagem em si. Assim evoco uns versos do mestre Paulo Leminski: Repara bem no que não digo.
Fonte: Yahoo