Divagando sobre as incógnitas do voto, senhor das eleições

Por: Fátima Oliveira

A coisa mais instigante em eleições é o voto, o senhor das eleições. Para obtê-lo perpetram-se até fraudes! Fica depenado quem não se curva às evidências de que, quando o povo quer eleger alguém o voto é como “fogo morro acima e água morro abaixo, não há quem segure”. Certo que nem sempre são eleitas a melhor candidatura e proposta de governo a olhos vistos.

E a coisa mais difícil é descobrir o que move a decisão de escolher A e não B ou C ou D, quando o resultado das eleições é incoerente com o que o povo precisa. Falo das necessidades imediatas de bem-estar e cidadania em geral – direitos legais e condições materiais de existência (moradia, saneamento, transporte, equipamentos sociais etc.); e das necessidades estratégicas de um povo – perspectivas de mais cidadania e democracia.

Fico azeda ao buscar explicações para resultados eleitorais incompatíveis com as necessidades imediatas e estratégicas de um povo. Por exemplo, a permanência da família Sarney no governo do Maranhão é um desafio aos meus neurônios, pois é racionalmente inexplicável. Nem sempre fraudam, pois no Brasil enganar o povo não é fraude. Deveria ser, mas não é! O povo os elege. Não adianta chorumelar. E, quando não ganham eleições, encontram suporte legal e assumem o governo. Estou convicta: é um caso de baixa consciência política e que eles são PhD em manipular.

São casos similares que clamam por algo antigo, porém esquecido, a elevação da consciência política e sua decorrência direta: o pensamento crítico, jogado de escanteio e substituído pelo saber dos marqueteiros, hábeis mestres: potencializam excelentes candidaturas, mas também podem alavancar o nada, numa flagrante competência da arte de enganar impunemente. Um caso exemplar: a eleição de Collor à Presidência da República (1989), um fogo morro acima gerado pela competência marqueteira. Iludidos constataram rapidamente que o produto era completamente diferente do anunciado. Aí, Inês já era morta!

Não sou contra a utilização do marketing eleitoral, sou contra o poder de enganar que marqueteiros têm usado e abusado, como se uma candidatura fosse um cosmético sem controle de qualidade real. Agregue-se ainda o poder dos grandes jornais e da TV, que possuem suas candidaturas – coisa nada demais e que é parte do jogo, pois seus donos votam e têm o direito de escolher quem acham condizente com seus desejos lícitos e os indizíveis. Porém, é execrável que usem de meios torpes para que se torne cada vez mais difícil o exercício do direito de escolha do povo. São especialistas em trapaças e sabem que em meio ao analfabetismo funcional (um em cada cinco brasileiros) há um contingente expressivo de eleitores de baixa consciência crítica que é possível manipular.

Desde priscas eras as classes dominantes impõem a sua visão de mundo, materializando seus intentos por meio de expedientes escusos – de trapaças à violência, da simbólica às tentativas de eliminação moral e física. Então, não é novidade que muita gente esteja de mutuca especulando que tramoia sairá na TV às vésperas das eleições. Falam que um consórcio mafioso tem engatilhada uma “bala de prata” para impedir a probabilidade, cada vez mais plausível, de as eleições presidenciais serem resolvidas no primeiro turno! É uma expectativa (a da bala de prata) cruel.

A lição é que só há um meio de não sermos reféns de qualquer bala de prata: empenho cotidiano em formar pensamento crítico. Dá trabalho e requer tempo, mas não há outra saída.

 

 

Fonte: O Tempo

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