Do outro lado do rio – Por: Fernanda Pompeu

Existiu um tempo na minha vida em que sonhei de maneira desavergonhada. Quando estudante de Cinema, sonhava que seria uma das mais brilhantes diretoras de filmes do Brasil. Depois, ao escrever meu primeiro romance (até hoje inédito) sonhava que ele seria um marco na literatura nacional.

O fato é que me projetar com sucesso era natural em mim. Não eram só devaneios. Estudei e trabalhei fundo para conquistar vitórias – acreditando minhas por direito. Nos meus anos de escritora de romance, pulava da cama às cinco e ia para o ringue com as palavras.

Eu ainda sonhava com parágrafos perfeitos dando conta da justa mensagem. Assim como idealizava leitores dispostos a trabalhar duro para merecerem o prazer do texto. Hoje, reconheço que fui uma máquina de acreditar. Talvez – lá se foram robustos anos – por então saber tão pouco da vida. Não que agora saiba muito mais.

Vindos os dissabores e as frustrações, decidi matar a sonhadora que insistia em mim. Lenta, mas aplicadamente, fui me tornando uma pragmática. Ou, melhor imagem, uma Santa Tomé. Tinha que acontecer primeiro para eu crer depois. É claro, foi uma forma de reagir à dor das ilusões perdidas.

Mas de uns meses para cá, ando reorganizando o olhar para mim mesma. Tenho percebido que sem sonho não há vida, do mesmo modo que sem água não há barco. O sonho não precisa ser desvairado ou imenso. Ele pode ser como a esperança. Algo que raciocinamos que pode dar certo ou não, mas sonhamos que dê.

Tenho feito o exercício de levantar a cabeça. Espichar o olhar para o outro lado do rio. Perguntar e perguntar o que haverá na outra margem. Porque sempre existirá alguma coisa além do que enxergamos. Essa coisa não precisa ser nada fabulosa, como um unicórnio ou um dragão. Nem carece ser colorida ou perfumada.

Necessita apenas que bagunce de forma boa meu mapa mental. Algo que faça valer a pena pôr o barco a navegar. O que é igual a voltar a sonhar. Afinal, o que nos alegra é atravessar. É o movimento que nos mantêm respirando.

Fonte: Yahoo

+ sobre o tema

Operação resgata 12 pessoas em condições análogas à escravidão

A Polícia Federal (PF), em parceria com o Ministério...

A saga de uma Nobel de Economia pelo ‘Pix do desastre climático’

Mesmo com seu Nobel de Economia conquistado em 2019,...

Vitória da extrema direita na França afetará guerras, Mercosul e clima

Uma vitória da extrema direita ameaça gerar um profundo...

para lembrar

Rita Ribeiro faz show de lançamento de DVD no Circo Voador

Fonte: SRZD -   A cantora Rita Ribeiro sobe ao palco...

Feliciano: o avesso de Luther King

Desnecessário relembrar os lamentáveis acontecimentos sobre a ascensão do...

ONG diz que polícias do Rio e de SP matam mais do que toda polícia dos EUA

Em 2008, foram 1.137, no RJ; 397, em SP;...

Lula é candidato ao Prêmio Nobel da Paz

O presidente Luis Inácio Lula da Silva está...

Extrema direita francesa choca com slogan: ‘Dar futuro às crianças brancas’

O avanço da extrema direita na França abre caminho para campanhas cada vez mais explícitas em seu tom xenófobo. Nesta semana, um dos grupos...

Supremocracia desafiada

Temos testemunhado uma crescente tensão entre o Poder Legislativo e o Supremo Tribunal Federal. Essa tensão não decorre, no entanto, apenas do ressentimento de...

Na USP, professor deixa legado de R$ 25 milhões – e um recado às elites

Stelio Marras é professor e pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) e construiu toda sua carreira acadêmica na Universidade de São Paulo (USP), da graduação...
-+=