“Entrei de cabeça na tristeza e lá fiquei por uns dois anos”, diz Taís Araújo sobre seu papel como Helena

Traumas, superação, racismo, aceitação: a atriz, estrela da capa da Marie Claire de julho, abre o coração para assuntos polêmicos de sua vida pessoal e se emociona ao falar de marido: “Passamos pelo quarto de empregada e Lázaro disse: ‘Eu saí daqui’. Meu coração ficou do tamanho de uma azeitona”

por Marina Caruso no Revista Marie Claire

Foto: Foto: Sergio Zalis/Globo

Traumas, superação, racismo, aceitação: a atriz, estrela da capa da Marie Claire de julho, abre o coração para assuntos polêmicos de sua vida pessoal e se emociona ao falar de marido: “Passamos pelo quarto de empregada e Lázaro disse: ‘Eu saí daqui’. Meu coração ficou do tamanho de uma azeitona”

Na pele dele

“Há várias passagens do livro do Lázaro [Na Minha Pele, Ed. Objetiva, 152 págs.] que me tocam muito. Quando ele fala da mãe, dona Célia, não me seguro [emociona-se]. Foi um pecado ela não ter visto o filho bem assim [chora]. Nunca imaginaria que o menino que vivia no aperto viraria um dos maiores atores do país. Eu tive uma família economicamente forte, pude tudo. Meu sonho era ser diplomata, o Lázaro, quando criança, nem devia saber o que era isso. Acho uma sacanagem a mãe dele não estar aqui para ver o que ele virou. Quando a gente comprou a casa onde moramos, ele fez questão que tivesse piscina. O sonho dele era esse, o meu não, porque tive uma e sei que quase não se usa. Construímos a piscina e reformamos a casa toda. Numa das visitas à obra, eu e ele passamos pelo quarto de empregada e ele me disse: ‘Eu saí daqui’. Meu coração ficou do tamanho de uma azeitona. É triste, mas é linda a história dele… Ele é lindo. Me apaixono todo dia.”

Os Traumas

“Minha mãe me obrigava a fazer três coisas que me traumatizaram quando criança e não fiz: nadar, tocar piano e falar francês. Então, em 2009, quando me separei do Lázaro [ficaram meses separados até reatar], decidi que ia resolver uma delas e me mandei para Paris para passar seis meses estudando. Vinte dias depois, me liga o Manoel Carlos oferecendo a Helena de Viver a Vida. Larguei tudo e voltei. Ou seja, não aprendi francês e ganhei outro trauma, a Helena [risos]. Não chegou a ser um trauma, mas é uma puta frustração. Era a primeira Helena negra das novelas e ela tinha que ser um arraso. Mas, dramaturgicamente, era fraca, sem conflitos, tinha a vida ganha. Se eu tivesse forças, teria a transformado numa vilã. Mas estava tão abalada com as críticas, tão frágil, que não tinha forças para pensar. Entrei de cabeça na tristeza e lá fiquei por uns dois anos. Pensei: ‘Minha carreira acabou’. No meu único dia de folga, estava tomando um sorvete e uma senhora virou e disse: ‘Posso te falar uma coisa? Quando falar algo na novela, pensa no que você está falando porque a gente não acredita no que você fala’. A mulher acabou comigo… Eu estava tão cagada que só consegui responder: ‘Pode deixar’. A novela das 8 é Copa do Mundo, né? Todo mundo acha que sabe fazer. Hoje, olhando com distanciamento, vejo que a Helena foi importante. Mudou minha vida. Me mostrou que tipo de atriz eu queria ser e que tipo de papéis não queria mais. Foi aí que comecei a produzir teatro, a buscar obras de muita qualidade artística.

Racismo
“Em 2015 [quando foi vítima de ataques racistas em seu Facebook], percebi que não podia mais aceitar o preconceito passivamente. Ao mesmo tempo, não queria me promover em cima do racismo. Então, optei por não dar entrevistas — o que me causou muita dor de cabeça — e fui à delegacia prestar queixa por injúria racial. Sofri muita pressão para falar sobre o assunto na época. Até do Jornal Nacional. Tive que implorar para que a Globo me resguardasse. Meu lugar não é na seção policial do noticiário e sim na de cultura. Quanto mais falasse sobre aquilo, mais voz daria aos racistas.”

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