Menino de 11 anos, portador de deficiência intelectual leve, sofre agressões físicas e ofensas de colegas no litoral paulista. Menina de 12 já havia sofrido com racismo na mesma unidade.
Por Mariana Nadaleto, do G1
![](https://ea9vhhuzko5.exactdn.com/wp-content/uploads/2018/08/escola-municipal.jpg?strip=all&lossy=1&quality=90&webp=90&avif=80&ssl=1)
Mais um caso de preconceito foi registrado na Escola Municipal Joaquim Augusto Ferreira Mourão, em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Desta vez, a vítima é um menino de 11 anos, portador de uma deficiência intelectual leve. Por diversas vezes, ele já foi chamado de ‘retardado’, e também sofreu agressões físicas.
Esse é o segundo episódio desse tipo registrado na mesma unidade de ensino. Na última sexta-feira (24), o G1 denunciou o caso de uma menina de 12 anos, que foi vítima de ameaças de morte e ofensas racistas por parte de uma colega. O desabafo da mãe nas redes socias teve grande repercussão, principalmente por expor uma carta recebida pela filha, na qual é chamada de ‘macaca’.
Já os ataques contra Kauê acontecem desde o ano passado, quando a mesma turma estudava em outra escola municipal. Porém, a situação piorou neste ano, chegando a um ponto insustentável neste mês, segundo a mãe do menino, Cintia Sena, de 31 anos. Ela conta que a diretora da escola chamou Kauê e pediu que ele não contasse nada aos pais, caso os colegas de classe mexessem com ele.
“Eu fui conversar com a direção da escola, e me explicaram que fizeram isso para evitar mais confusão. Assim, nós [Cíntia e o marido] não iríamos à escola procurar saber o que estava acontecendo. Me disseram, ainda, que tratam a inclusão com o maior respeito, mas não foi isso o que aconteceu. Acredito que meu filho está sofrendo preconceito na escola”.
Cíntia ainda relata o tipo de ofensas e agressões cometidas contra o filho. Ela explica que, dentro da sala de aula, os colegas o xingam de ‘retardado’ e ‘bebê chorão’. Também já empurraram o menino, colocaram o pé na frente para ele cair, deram tapas em sua cabeça e jogaram borracha e papel em sua direção.
“Ele entende tudo o que está acontecendo, mas não tem malícia para se defender, então, sempre começa a chorar. É muito difícil buscá-lo na escola e vê-lo sempre com o olho inchado de tanto chorar. Temo pela integridade física e emocional dele. Tenho medo que o empurrem a ponto de machucar de verdade, ou que isso atrapalhe seu desenvolvimento”.
Apesar de acontecer há meses, o caso de Kauê só veio à tona após a mãe do menino comentar em uma postagem nas redes sociais sobre o que aconteceu com Adriele. Ela disse que esse não era o primeiro caso na escola e, provavelmente, não seria o último. Em seguida, foi procurada por uma vereadora da cidade.
“A direção não me parece preparada para enfrentar esse tipo de preconceito contra os alunos. É preciso impor regras, e que a escola se prepare, para acabar com isso. Chegaram até a falar que ele estava fantasiando e se jogando no chão. Na última semana, trocaram meu filho de sala. Eu aceitei, porque não aguentava mais, mas isso é errado, a culpa não é dele”, conclui.
Caso Adriele
A situação começou uma semana antes das férias escolares, em junho, mas se repetiu há alguns dias. Adriele é aluna da Escola Municipal Joaquim Augusto Ferreira Mourão, no bairro Melvi. Ao G1, a mãe, a vendedora Adelaide Alves, de 31 anos, contou que as primeiras ofensas surgiram na saída da escola. Mães de colegas da filha a alertaram, na tentativa de protegê-la.
“Minha filha recebeu uma carta, que dizia que ela fedia, que parecia uma macaca, que queriam matá-la. Na escola, ela foi orientada a entregar para a diretora, e depois, para não me contar. Descobri por uma amiga minha, que já sabia, e me questionou. Fui a última a saber”, conta. Indignada, decidiu publicar a situação nas redes sociais.
No dia da publicação da reportagem sobre Adriele, a Secretaria de Educação (Seduc) de Praia Grande ressaltou que repudia qualquer tipo de ato que afete a moral e a dignidade dos alunos, e que assim que a unidade escolar soube dos fatos, adotou providências, assim como a mãe recebeu o devido atendimento, e ações foram tomadas para assegurar a segurança física da menor. Sobre os episódios envolvendo Kauê, a pasta informou que não foi procurada e, desta forma, não tomou ciência desse caso. Profissionais da Seduc vão averiguar a denúncia.
Leia Também: