Governo de São Paulo pode ter que pagar R$ 40 milhões por operação na Cracolândia

Em entrevista coletiva, promotores tecem críticas duras contra o governo do Estado e classificam operação como “fracassada”

Por Igor Carvalho

Durante uma entrevista coletiva realizada nessa terça-feira (12), na sede do Ministério Público de São Paulo (MP), promotores anunciaram que será ajuizada uma ação civil pública contra o governo do estado, pedindo uma indenização de R$ 40 milhões em decorrência da operação policial promovida na Cracolândia, iniciada em janeiro. O MP concluiu que a operação foi “fracassada e ineficiente”, além de “violar os direitos humanos”.

A investigação durou três meses e foi coordenada, conjuntamente, pelos promotores Mauricio Ribeiro Lopes (Habitação e Urbanismo), Luciana Bergamo (Infância e Juventude), Arthur Pinto Filho (Direitos Humanos) e Eduardo Valério (Inclusão Social). O relatório final aponta incoerências entre o discurso e a prática na atuação da Polícia Militar. Para o promotor da Inclusão Social, Eduardo Valério, a “operação não quebrou a logística do tráfico, apenas ampliou a atuação para outros logradouros da cidade, tampouco trouxe à população a sensação de segurança.” Outra preocupação do promotor é com a imagem dos dependentes químicos, estigmatizados perante a população. “Essa operação tentou demonstrar à sociedade que usuário de drogas é criminoso e ofendeu gravemente o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.”

Indenização e “procissão do crack”

“O resultado de um desastroso conjunto de discursos oficiais, de falsas teorias, de ações policiais truculentas e desarticulação entre órgãos estaduais foi o total fracasso da operação”, diz o relatório. Além da indenização de R$ 40 milhões, as investigações fizeram com que os promotores entrassem com um pedido liminar para que a Polícia Militar seja impedida de realizar as chamadas “procissões do crack” – quando policiais abordam pessoas em situação de rua ou usuários e os obriga a circular de um lado para o outro – sob pena de pagar uma multa diária de R$ 10 mil. Em caso de êxito da ação, o dinheiro deve ser repassado ao Fundo Estadual de Reconstituição dos Bens Lesados. Dependentes químicos ou pessoas em situação de rua que se sentirem prejudicados pela atuação militar na Cracolândia podem requerer, por meio de processos individuais via Defensoria Pública, indenização sobre este valor.

Questionados sobre a responsabilidade do governador Geraldo Alckmin (PSDB), os promotores ressaltaram que não podem investigar os “atores políticos” da operação, por força da legislação, cabendo somente ao procurador geral da Justiça, Márcio Fernando Elias Rosa, conduzir a investigação. Em função disso, uma cópia do processo foi encaminhada a Elias Rosa. Ainda assim, ao comentar o fato, o promotor Arthur Pinto Filho deixou claro sua impressão. “Há indícios, ainda que vagos, de participação do governador do estado.”

Maurício Ribeiro Lopes lembrou outros fatos que evidenciam o fracasso da ação do governo estadual. “Nenhum grande traficante foi preso na operação, pelo simples fato de que lá não há grandes traficantes.” O promotor apontou o que, para ele, foi o motivo do estopim da operação, em 3 de janeiro de 2012. “É claro e óbvio que passa pelo processo de higienização do centro de São Paulo, pelo projeto “Nova Luz”, favorecendo a especulação imobiliária. A prefeitura é beneficiária dessa operação, ainda que não esteja envolvida, pois há a valorização da área. Embora seja uma Zeis (Zona Especial de Interesse Social), temos muitos aparelhos particulares, então é uma orquestra de ações muito bem ensaiada.”

 

 

Fonte: Spressosp

+ sobre o tema

MPT e ONU chamam jovens negros para evento gratuito de inclusão no mercado

Como avançar no debate sobre diversidade e promover a...

SMPIR lança portal sobre emprego e população negra em São Paulo

SERVIÇO: Lançamento do portal São Paulo Diverso Dia 16 de setembro...

PEC que proíbe aborto avança no Senado e pode ser votada na CCJ

Desarquivada em fevereiro, a PEC 29/2015 garante a “inviolabilidade...

para lembrar

Militante de rede… ô coisa chata

O paradoxo está aí. “Nunca antes na história desse...

INDÍGENAS CORREM RISCO DE DESPEJO

AÇÃO URGENTE   INDÍGENAS CORREM RISCO ...

Empresa lança pacote de emoticons negros para celebrar a diversidade

Para promover a pluralidade, a companhia Oju Africa lançou...

O anúncio do HIV, 25 anos depois: Magic Johnson publica emocionante carta – leia!

Há exatos 25 anos Magic Johnson participaria de uma...
spot_imgspot_img

Geledés participa da 54ª Assembleia Geral da OEA

Com o tema “Integração e Segurança para o Desenvolvimento Sustentável da Região”, aconteceu entre os dias 26 a 28 de junho, em Assunção, Paraguai,...

Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos abre inscrições para sua 46ª edição

As inscrições para a 46ª edição do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos estão abertas de 20 de junho a 20...

Dando luz à conscientização: gravidez na adolescência 

Entre sonhos e desafios, histórias reais se cruzam no país onde a cada hora nascem 44 bebês de mães adolescentes, aponta o Sistema de...
-+=