Grupo Zaffari é condenado a pagar indenização de R$ 60 mil por racismo

A rede de supermercados Zaffari foi condenada a pagar 60 mil reais de indenização a três jovens por racismo, má-fé e danos morais. A juíza Karla Aveline de Oliveira, da Vara Cível do Foro Regional da Tristeza, no Rio Grande do Sul, também multou a empresa por não entregar um DVD que seria prova no processo.

no POA24 horas

Foto: Gilberto Simon

Três estudantes, hoje maiores de idade, mas que tinham 14 anos e um 15 anos em 2013, quando o fato ocorreu, saíram da escola e foram ao supermercado localizado na avenida Otto Niemeyer, em Porto Alegre (RS), próximo do colégio. A intenção era comprar pacotes de bolacha, mas, ao efetuarem o pagamento no caixa, foram abordados de maneira abusiva por cinco seguranças, que ordenaram que abrissem as mochilas escolares e esvaziassem bolsos.

Os três relataram que, na frente de diversas pessoas, foi constatada “a inocorrência de furto e ordenada pelos seguranças a imediata saída de todos do local”

Eles foram até a polícia e registraram boletim de ocorrência e apresentaram a nota fiscal dos produtos adquiridos.

De acordo com a magistrada, a abordagem foi desmotivada, abusiva e truculenta e resultou em abalo moral e psíquico.“Foi em horário de pico, em estabelecimento muito próximo à escola onde estudavam, frequentado por colegas, amigos e pais de colegas, de modo que foram expostos, a não ser pelo fato de serem negros, à situação vexatória, humilhante e violenta”, escreveu Karla Aveline de Oliveira.

Em sua defesa, a empresa alegou que nenhum fato foi registrado ou ocorreu na data e hora alegadas pelos estudantes e que “a fantasiosa história narrada constitui-se em uma aventura jurídica com o intuito de auferir lucro”. Depois, a empresa confirmou a abordagem aos autores, que teriam colocado na mochila o próprio energético para induzir os seguranças ao erro.

Uma testemunha, que estava na fila do caixa, contou que os seguranças se referiram aos meninos como “esses neguinhos” e que os rapazes ficaram nervosos com a situação. Outra testemunha disse ter sido “constrangedor”. Disse que ouviu os seguranças comentarem: “Vamos ver se esses neguinhos não têm alguma coisa aí”.

A empresa não arrolou testemunhas, ainda que os nomes de dois dos seguranças tenham sido informados na inicial, segundo a magistrada.

Procurada, a rede de supermercados Zaffari informou que “lamenta o referido fato e considera o evento uma exceção à regra de seus procedimentos representativos”. “Desde o caso, foram aprimoradas as práticas e treinamentos de abordagem nas lojas, tendo sempre em mente os princípios que construíram a história da empresa junto às comunidades onde atua há 83 anos”.

 

+ sobre o tema

Taís Araújo sobre mulher pisada por PM: violência e horror se naturalizaram

Taís Araújo se manifestou hoje sobre a agressão sofrida...

Ato de protesto em frente rede de supermercado que jovem foi assassinado por segurança

Cartazes com dizeres como “Vidas negras importam” e “Minha...

“Somos estigmatizados” – por Marcelo Pellegrini

Cerca de 800 famílias vivem às margens da avenida...

para lembrar

Quanto custa a dignidade humana de vítimas em casos de racismo?

Quanto custa a dignidade de uma pessoa? E se...

Condenação por post racista em Ribeirão Preto é pedagógica, diz procuradora: ‘existe consequência’

Internauta foi condenado a prestar serviços comunitários após publicar...

Banda denuncia racismo em decoração de hotel: “Quadros de escravidão”

Integrantes da banda Àttøøxxá ficaram revoltados com a decoração...
spot_imgspot_img

Ação afirmativa no Brasil, política virtuosa no século 21

As políticas públicas de ação afirmativa tiveram seu marco inicial no Brasil em 2001, quando o governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho sancionou...

Decisão do STF sobre maconha é avanço relativo

Movimentos é uma organização de jovens favelados e periféricos brasileiros, que atuam, via educação, arte e comunicação, no enfrentamento à violência, ao racismo, às desigualdades....

Por que o racismo é uma crise de saúde

Quando Layal Liverpool era adolescente, na Holanda, ela começou a observar pequenas manchas sem pigmento no rosto e nos braços. O médico receitou antibióticos e...
-+=