Hoje na História, 30 de julho de 1976, João do Pulo, conquista a medalha de bronze no salto triplo, nas Olimpíadas de Montreal

O cabo do Exército João Carlos de Oliveira (Pindamonhangaba, SP, 28/5/1954 – São Paulo, SP, 29/5/1999), o João do Pulo, embarcou para os Jogos de Montreal, em 1976, como maior destaque da delegação brasileira e favorito à medalha de ouro no salto triplo. Um ano antes, nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, ele batera o recorde mundial da prova, com um salto de 17,89 metros. Essa marca permaneceu como recorde por dez anos, até 1985, quando o americano Willie Banks enfim a superou: 17,97 metros. A marca de João do Pulo era 45 centímetros melhor que a do soviético Viktor Saneiev, apelidado de “Canguru” e então tricampeão olímpico. E superior em 1,33 metro ao melhor salto de toda a carreira do fenomenal Adhemar Ferreira da Silva, bicampeão olímpico em 1952 e 1956.

“Não quero ser visto como salvador da pátria. Quero que torçam por mim, mas não quero que esperem milagres ou algo do outro mundo”, ponderou João do Pulo antes de embarcar no Boeing que o levou a Montreal. Na Olimpíada ele não pôde repetir a façanha do Pan, pois machucou-se justamente no dia da competição. Com dores no nervo ciático, ficou mais de um metro abaixo de seu próprio recorde, com 16,90 metros. Teve, assim, que se contentar com a medalha de bronze, atrás do soviético Victor Saneiev, com 17,29 metros, e do americano James Butt, com 17,18 metros. Naquela mesma Olimpíada, João chegou também à final do salto em distância, que não era sua especialidade, e terminou em quarto lugar.

Quatro anos depois, na Olimpíada de Moscou, João do Pulo repetiu o bronze no Estádio Lênin, no dia 25 de julho de 1980, mas novamente com gosto de frustração. Na final do salto triplo, teve nove de seus doze saltos anulados pelos juízes, assim como aconteceu com o australiano Ian Campbell. Em todas as vezes que o brasileiro e o australiano pediram para ver as marcas que comprovariam as irregularidades de seus saltos, os fiscais disseram que a pista já havia sido limpa. A intenção era clara: facilitar o caminho de Victor Saneiev, ídolo nacional soviético, para conquistar, em casa, o tetracampeonato olímpico na prova, igualando, assim, o americano Al Oerter, vencedor de 1956 a 1968.

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Uma das tentativas de João, a mais absurdamente invalidada, daria o ouro ao brasileiro, com inatingíveis 17,80 metros. A alegação para a anulação foi que ele teria “queimado o salto”. Se a intenção dos árbitros era mesmo escusa, o tiro acabou saindo pela culatra: com 17,24 metros, Saneiev ficou apenas com a prata, atrás dos 17,35 metros de seu compatriota Jaak Uudmäe. Contrariado, João do Pulo chegou a pedir ao chefe da delegação brasileira, Hélio Babo, que entrasse com um recurso para a anulação da prova, mas não foi atendido. Indignado, desligou-se da delegação e viajou para Paris. Em junho de 2000, o jornal australiano Sydney Morning Herald publicou uma reportagem denunciando o complô para dar o tetracampeonato olímpico ao soviético Saneiev.

Garoto pobre, órfão desde os 7 anos de idade, ex-lavador de carros, João Carlos de Oliveira chegou a ser recordista e tricampeão mundial, além de bicampeão pan-americano no salto triplo, que começou a praticar em 1972. Antes disso, aproveitando-se da boa estatura (1,89 metro), jogou basquete e vôlei. Dezoito meses depois de disputar sua última Olimpíada, na madrugada de 22 de dezembro de 1981, João Carlos de Oliveira sofreu um acidente. Ele saía de um posto de gasolina da Via Anhangüera, uma das estradas que ligam a cidade de São Paulo ao interior do Estado, quando seu carro chocou-se de frente com a Brasília amarela do operário João Mariano da Silva, que trafegava na contramão e morreu na hora. No acidente, João teve parte da perna direita amputada. Prosseguiu a carreira militar até se reformar como sargento e chegou a se eleger deputado estadual em São Paulo pelo PFL, em 1986. Morreu aos 46 anos, em conseqüência de cirrose hepática.

Fonte: Brasileiros na História

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