Homens, vocês não são donos de mulheres e filhos

Um marido desempregado entrou em desespero e matou sua mulher e seus filhos na Barra da Tijuca, RJ. Outro pai matou os filhos de 3 e 4 anos e deixou uma carta alegando que o “componente infidelidade” foi a motivação do crime. Um ex-marido matou a filha de 7 anos e feriu a ex-mulher porque, segundo familiares, não aceitou o fim do relacionamento. Outro é suspeito de matar filha de 5 anos na Tijuca e a notícia diz que ele teria tido um surto por estar desempregado.

Por Dany Santos, do HuffPost Brasil

Todas essas notícias têm algo em comum: esses homens decidiram quem viveria, quem morreria e quem sofreria ou não por conta das mortes. Os três agiram como se fossem deuses soberanos que decidem sobre a vida alheia, sobretudo de suas mulheres e filhos. Homens sufocam, jogam do prédio, esfaqueiam e atiram em seus filhos e suas mulheres porque sentem-se donos deles. Mães e filhos são tratados como meros objetos comprados e mantidos financeiramente por eles e acham que podem, a qualquer momento, descartar as pecinhas do seu jogo.

Analisando as notícias, o homem é posto num local seguro que o torna vítima: “desempregado entra em desespero” e “ele teve um surto” são exemplos categóricos da naturalização de crimes contra mulheres e seus filhos. Homens que cometem crimes para punir mulheres são descriminalizados pela sociedade por conta do seu “desespero”, da sua “loucura” e das suas “paixões”. Por outro lado, a mulher – vítima – aparece no papel de vilã: “infiel”, “rompeu o relacionamento”, “brigava com ele”.

Homens que cometem essas barbaridades não são dignos, bons pais de família, deprimidos ou preocupados com o futuro da família. Eles são apenas assassinos misóginos, objetificadores e machistas cuja dignidade é tão frágil quanto a vida. É importante entender que romantizar esses crimes é validar o machismo legitimar a violência contra mulheres.

É preciso criar meninos que se tornem homens que saibam que esposas e filhos não são seus objetos, que eles não são donos dos seus corpos e de sua vida. É urgente que eles saibam, desde cedo, que podem expressar seus sentimentos de outras formas, que é permitido chorar, que pedir ajuda é essencial e que precisam aprender a lidar com os “nãos” da vida.

Precisamos criar meninos que saibam perder e errar sem precisar agir com brutalidade. Precisamos desconstruir essa criação de meninos que se baseia em banalizar o bater, o lutar, as agressões. Brutalidade não é “coisa de menino”. É coisa de agressor. Que aprendam os meninos de hoje para que não se tornem os futuros agressores e assassinos.

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