Inep tenta sobreviver a guerra cultural fundamentalista na educação

Enviado por / FonteUOL, por Ronilso Pacheco

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep, órgão responsável pela elaboração do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, está sob ameaça. O próprio Enem está sob ameaça.

Mas engana-se quem acha que esta ameaça se resume a uma gradativa intervenção na formulação das questões do exame, na interferência para banir questões que, na perspectiva do governo Bolsonaro, tenha conotação de ideológica, ou promova o ataque aos “valores morais (cristãos)”.

A ameaça é muito maior. O ultraconservadorismo bolsonarista está comprometido com o “fundamentalismo evangélico ilustrado” para fazer da Educação a principal trincheira daquilo que este campo conservador considera ser uma “guerra cultural”.

Há uma limpeza formativa em curso na educação no Brasil, que avança, em uma certa medida, na multiplicação de escolas que estão aderindo ao projeto de Escola Cívico-Militar –onde o debate e o ensino da diversidade, direitos humanos, gênero e questões raciais já não encontram lugar– e na apropriação ultraconservadora dos órgãos da Educação que orientam a produção de material, ensino, avaliação e pesquisa no país.

A Folha de São Paulo já publicou, em junho, na mesma ocasião em que Milton Ribeiro disse que não teria acesso prévio à prova, a criação de um “tribunal ideológico”, uma comissão permanente para fazer a revisão de questões com caráter “ideológico” no Enem.
Obviamente, assim como o chamado “gabinete do ódio”, ou o dossiê de funcionários da segurança pública que seriam antifascistas e por isso deveriam ser monitorados pelo Ministério da Justiça, o governo nega a criação de tal “tribunal”. Mas como nos dois exemplos acima citados, a suspeita é sua existência.

Quando Milton Ribeiro diz que o Enem deve ter “teor técnico e não ideológico”, ele está argumentando com a lógica do enfrentamento da “guerra cultural”. Trata-se de um projeto complexo de orientação ultraconservadora, religiosamente fundamentalista, que deve desconstruir qualquer fomento de defesa da, e respeito à diversidade, à pluralidade e à visão crítica do que o governo considera “valores morais”.

Em março, Ribeiro, indicou a professora Sandra Lima Vasconcelos Ramos para comandar o órgão do ministério responsável pela coordenação de materiais didáticos. Sandra Lima é conhecida por sua árdua defesa do projeto “Escola Sem Partido” e sua batalha contra a chamada “ideologia de gênero”, que estaria ameaçando a educação das crianças no país.

A equipe de Ribeiro ainda conta com Inez Borges, que em um encontro evangélico de 2017, afirmou que “a pedagogia começou a ser tratada de forma científica, desvinculada da igreja e da família e deixando a educação nas mãos do Estado”.

Inez é profundamente envolvida com a organização Visão Nacional para a Consciência Cristã, de orientação conservadora, e chegou a gravar vídeo convidando para o encontro Consciência Cristã de 2021, que aconteceu em fevereiro.

É natural que um governo, e, neste caso, que um ministro da Educação, empossa profissionais e técnicos nos quais e nas quais ele encontra afinidade. Mas aqui é mais delicado e muito mais nocivo para a educação no país.

O que tem sutilmente se levantado é a imposição de uma educação homogeneizada e higienizada, que intenciona interditar qualquer espaço para o diferente e contraditório. Uma cultura fundamentalista puritana (evangélica ou não), que vê no ultraconservadorismo o resgate de uma ideia perdida de sociedade “decente” e culturalmente forte. É um ataque.

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