Ivan Lessa: Objetivo – Obama

Fonte: O Globo –

Impressionante. Essa eu não sabia. Assim como muita gente boa informada. De Barack Obama, vamos aprendendo aos poucos.

O “exitante” presidente norte-americano cavalga indômito uma onda de popularidade que há muito não se via no país amigo. Sim, é verdade, onda não se cavalga. Trata-se uma liberdade poética. Sim, é verdade, seu Ibope já foi melhor, mas o jovem líder continua lá em cima. Com exceções dignas de nota. E eu já chego lá.

Eu usei o termo “exitante” para Obama e explico porquê: alguém cunhou em português a palavra e eu achei interessante, já que corresponde, segundo um viés mais sobre o conservador, à realidade dos fatos. “Exitante”. Ou seja, bem sucedido, mas algo cauteloso demais. Perfeito. Cabe como uma luva de pelica. Antes a precaução do que a pressa.

Custo um pouco para chegar ao assunto que, de início, fui logo avisando que me impressionou. Hesitei demais. Sem “novocabulários”. O que há é que andei passando os olhos em algumas resenhas de um livro lançado há pouco nos Estados Unidos e no Reino Unido. Trata-se de O Serviço Secreto do Presidente, da autoria do jornalista e escritor Ronald Kessler, e leva ainda um subtítulo explicando que se trata da vida nos bastidores dos agentes secretos que protegem o “Potus” (código geral com que o serviço designa todos e quaisquer Presidents of the United States).

Há uma vasta quantidade de informações no livro, mas aquela em que Kessler mais se detém é precisamente a que justifica o trabalho dos “secretas”: o cuidado com a vida de Barack Obama. O dado mais divulgado pela imprensa é aquele que, linhas acima, chamei de “impressionante”.

Vejam vocês, desde que Obama ascendeu ao poder, o índice de ameaças contra a vida do presidente aumentou em – segurem-se – 400% comparados com as 3 mil ameaças que George W. Bush recebia por ano. Parece até que todo mundo quer dar um teco em Obam.

Todo presidente tem um codinome especial. O de Obama é Renegade (renegado, em tradução fiel) e o de sua senhora, a primeira-dama Michelle Obama, Renaissance (Renascença, idem). “Renegado”, cá entre nós, eu acho mancada do Serviço Secreto. Pouco apropriado. Deveria ser algo assim feito Impressionism (“Impressionismo”, tradução escrava). Isso para manter um certo padrão artístico no casal 20.

Poderiam ter optado também por nomes de perfumes. Seria mais chique. Shalimar, de Guerlain, por exemplo, para Michelle Obama, uma vez que, segundo consta, é sua loção aromática predileta. E, para manter pungente o diálogo oloroso, Hugo Boss, para Obama.

Tergiverso, tergiverso, para variar tergiverso. Freud explica. Deve ser o tema terrível que assim me faz agir. Volto ao livro e alguns outros detalhes.

Ronald Kessler conta como, em fins do ano passado, dos complôs divulgados (grande parte é deixado na moita, por motivos óbvios), o mais grave foi, com toda certeza, o de um grupo de supremacistas (por que não chamar logo de “racistas”?) do Tennessee que planejava assaltar uma loja de armas, matar a tiros 88 negros, decapitar 14 outros e, a seguir, para coroar sua tétrica “missão”, assassinar o primeiro presidente negro na história dos Estados Unidos. Conforme sabemos, não deu em nada, embora o autor não deixe bem claro que fim levou a ousada “rapaziada”.

Kessler leva páginas e mais páginas acusando e se queixando das ineficiências dos serviços secretos, embora deixe claro que toda e qualquer ameaça é levada extremamente a sério. No entanto, não explica, no caso dessa canalha do Tennessee, o porquê de 88 negros fuzilados e 14 degolados. Numerologia? Cabalismos? Jamais saberemos.

Uma coisa fica patente: a mais alta patente norte-americana, Barack Obama, já detém outro recorde, além de primeiro presidente negro, o de ser o alto potentado mais contemplado com ameaças de morte.

Lamentável, simplesmente lamentável.

Matéria original

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