Jeferson De fala sobre desafios de ser um cineasta negro

Diretor do premiado ‘Bróder’ e criador do movimento Dogma Feijoada participa de oficina e bate-papo promovidos pelo Sesc

por Régis Martins

Há doze anos, um movimento cinematográfico discutia a presença da cultura negra no cinema. O Dogma Feijoada questionava, não apenas a figura do afro-brasileiro à frente das câmeras em representações estigmatizadas, mas principalmente, a presença negra na produção destes filmes.

Passada mais de uma década, seu idealizador, o cineasta Jeferson De, conseguiu realizar seu primeiro longa-metragem, o premiado “Bróder” e tornou-se uma espécie de avis rara entre seus pares.

Jeferson é um diretor de cinema negro, algo incomum num país de racismo velado como o Brasil.

“Para nós, negros, as coisas não têm sido fáceis em qualquer área. Temos uma herança da escravidão muito presente na sociedade. No meu caso, só consegui ser um cineasta porque cheguei numa das universidades públicas mais importantes dos países emergentes [a USP]”, responde o cineasta, em entrevista por e-mail.

Ele chega a Ribeirão no próximo dia 20, quando vai coordenar uma oficina em que aborda as fases de produção cinematográfica. As inscrições para o curso já se encerraram por causa da alta procura. No dia 24, participa de um bate-papo nos Estúdios Kaiser de Cinema.

Promovido pelo Sesc Ribeirão desde o último dia 10, o projeto ‘Dogma Feijoada: 12 anos depois’ exibe ainda uma série de filmes que seguem os preceitos do movimento criado por Jeferson.

“O Dogma Feijoada é um manifesto, mais que um movimento. Após estes anos algumas coisas aconteceram, surgiram diversos diretores e diretoras no Brasil. De certa forma, ele é consequência natural do avanço da sociedade”, afirma o cineasta, que ressalta: “Falta muito para se chegar em algo que expresse o que realmente apontávamos naquele momento, que é fazer valer a diversidade brasileira”.

Marketing

Jeferson conta que o Dogma brazuca não tem nada a ver com o movimento de mesmo nome criado na década passada pelo dinamarquês Lars Von Trier e seus pares.

“A gente só colou o mesmo nome por uma questão de marketing, de fazer com que ideias novas aventassem no audiovisual brasileiro. Lá, era mais um movimento que seguia na contramão da indústria. Aqui nossa questão é a diversidade na produção, algo que estamos experimentando intensamente nos últimos dez anos”, argumenta.

Apesar de todo o destaque que ganhou com “Bróder”, Jeferson lembra que não é um pioneiro. Antes dele, outros cineastas negros se aventuraram na década de 1970. Nomes como Zózimo Bulbul, Valdir Onofre e Antonio Pitanga, este último pai da atriz Camila Pitanga. Porém, a nova geração considera Jeferson uma espécie de Spike Lee tupiniquim.

“Acho uma honra ser comparado a um dos mais brilhantes cineastas contemporâneos”, comenta, não escondendo a influência.

Mas, será que existe um cinema legitimamente negro brasileiro ou vai ser preciso criá-lo? O diretor acredita que alguns filmes nacionais realizados por brancos abordaram a problemática negra, mas ele tenta não limitar seu foco.

“Sempre pensei num cinema que contemple a diversidade e não apenas do homem, branco, carioca ou paulista. Estamos no caminho certo, mas ainda lento”, responde.

 

Fonte: Jornal da Cidade

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