Livro causa polêmica ao acusar Smurfs de racistas e antissemitas

Um livro lançado na França tem provocado polêmica ao afirmar que os pequenos duendes azuis Smurfs – personagens de histórias em quadrinhos criados no final dos anos 50 – seriam racistas, antissemitas, sexistas e viveriam em um regime totalitário.

Le Petit Livre Bleu (O Pequeno Livro Azul, em tradução literal), de Antoine Buéno, que diz fazer uma “análise crítica e política da sociedade dos Smurfs”, vem despertando inúmeras críticas por parte dos fãs dos personagens.

Vários internautas afirmam que o autor “destrói sonhos”, entre outros comentários mais severos.

Buéno, professor do Instituto de Ciências Políticas de Paris, contou à BBC Brasil ter recebido até ameaças de agressões físicas por e-mail.

Nessa nova análise da obra do ilustrador belga Peyo, Buéno afirma que já no primeiro álbum da série, Os Smurfs Negros, de 1963, os personagens, que vivem em uma aldeia na floresta, enfrentam uma ameaça “racial”.

“Nessa história, eles ficam doentes e, quando isso acontece, eles não se tornam vermelhos ou de outra cor, e sim negros. Eles perdem a inteligência e a fala e balbuciam como imbecis”, diz ele, acrescentando que isso seria uma forma de “enaltecer a pureza racial dos duendes azuis”.

Mas Buéno faz questão de ressaltar que muito provavelmente a saga dos Smurfs reflete os estereótipos e valores existentes na sociedade em que Peyo vivia.

‘Caricaturas antissemitas’

O escritor afirma ainda que os traços do feiticeiro Gargamel, um humano que deseja comer os Smurfs, e também sua cobiça pela riqueza representariam “caricaturas antissemitas”.

O nome de seu gato malvado, que em francês se chama “Azrael” (Cruel, na versão brasileira), tem pronúncia parecida com a da palavra Israel, diz o autor.

Bueno também afirma que o Papai Smurf “se parece com Stálin”. Segundo ele, as histórias apresentam ligações com o comunismo, já que os personagens vivem em situação de igualdade.

“Na aldeia dos Smurfs não há propriedade privada e não existe dinheiro. Todas as vezes que isso foi introduzido no vilarejo, aconteceram desgraças”, afirma.

As críticas em relação ao sexismo se referem ao fato de que a única mulher do vilarejo é a Smurfete, que representaria “o ideal de beleza ariano”.

“Quando a Smurfete era morena, ninguém se interessava por ela. Depois se tornou loira e passou a fazer sucesso”, diz Bueno.

O escritor ressalta, no entanto, que o objetivo do criador dos Smurfs, o ilustrador Peyo, não era fazer esse tipo de associação ligada a questões raciais ou políticas.

“Peyo era pouco politizado e não era partidário de extremismos. Mas a maneira como ele concentra os esteriótipos revela várias coisas sobre sua época.”

Estereótipos

Segundo o escritor, Peyo seria um vanguardista em relação ao marketing. “Quando se quer agradar um grande número de pessoas, é preciso utilizar códigos que o público conhece”, diz Bueno, afirmando que seu livro permite refletir sobre como os estereótipos funcionam até hoje, mesmo em “obras inocentes”.

“Minha iniciativa é simplesmente a de continuar a se divertir com os Smurfs, mas de forma diferente. Podemos nos divertir como crianças ou como adultos, destrinchando o conteúdo”, diz Buéno, que afirma não criticar o ilustrador belga.

Após a morte de Peyo, em 1992, seu filho, Thierry Culliford, passou a participar da criação dos novos álbuns de histórias.

Buéno diz que as novas obras dos Smurfs, criadas pelo filho, abordam temas atuais da sociedade, como a religião e o papel das mulheres.

O Pequeno Livro Azul foi publicado pouco antes do lançamento do filme Os Smurfs, que chega aos cinemas franceses e brasileiros no início de agosto.

Fonte: BBC Brasil

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