Meninos pretos não vão para o céu – Por: Arísia Barros

A reprodução da violência- como uma convulsão coletiva- fomentada pelo estado alagoano alimenta a cultura da intolerância contra os meninos pretos.

Meninos pretos socialmente marginalizados e coisificados sem direito a ir para o céu. O céu como analogia substantiva de espaços estruturais dos direitos civis.

O estado de Alagoas que produz – cotidianamente- a perpetuação da herança conflitiva e memória histórica da escravização- é politicamente perverso com os meninos pretos.

Primeiro escravizados, depois segregados.

Segregados por olhares avaliadores. Medidos do pé a cabeça como peças disformes na prateleira social dos shoppings, invisibilizados nas políticas públicas eficientes e eficazes.

Escravizados pela opressão do racismo, os meninos pretos não vão para o céu.

A pobreza é uma privação de direitos criada pelo estado autoritário.

Meninos pretos na sua grande maioria estão fartos da escassez do nada ter. Do fogo cruzado das balas-certeiramente- perdidas.

O estado fabrica a miséria das famílias dos meninos pretos para depois escravizá-los, em periferias desmontadas sistematicamente sem direito à educação de qualidade, saúde, segurança, trabalho. Sem quase nada é muito difícil à emancipação social.

O estado não admite pretos libertos.

Meninos pretos experimentam –cotidianamente- o sentimento exacerbado de desprezo e hostilidade social.

Respeite minha história e meus cabelos black, brancos.

A intolerância institucionalizada acende sentimentos de medos, fabrica apartheid, executa sonhos, massacra auto-estimas, coloca vidas dos meninos pretos em valas comuns de cemitérios. Sem flores.

E a juventude alagoana preta, como o futuro da nação, perde o folego das possibilidades..

Meninos pretos não vão para o céu.

Fonte: Cada Minuto

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