Compositor, de 89 anos, também dividiu sucessos com Paulinho da Viola e Zé Ketti, entre outros
No O Globo
![](https://ea9vhhuzko5.exactdn.com/wp-content/uploads/2019/09/x40188257_1403.2000Ana-BrancoSCExclusivoElton-Medeiros-em-frente-ao-quadro-de-Heitor.jpg.pagespeed.ic_.cV5gtDn1Be-480x288.jpg?strip=all&lossy=1&quality=90&webp=90&avif=80&ssl=1&fit=480%2C288)
Um dos maiores compositores e melodistas do samba, Elton Medeiros morreu aos 89 anos. A notícia foi confirmada por Vidal Assis, último parceiro e pupilo do sambista . Ele estava internado em uma clínica de Laranjeiras e faleceu por complicações de uma pneumonia. Seu corpo será enterrado hoje no Catumbi, no Centro do Rio, às 15h30 (o velório começa às 14h).
![](https://ea9vhhuzko5.exactdn.com/wp-content/uploads/2019/09/xmorre-sambista-elton-medeiros.jpg.pagespeed.ic_.QFO20vSEPE-480x288.jpg?strip=all&lossy=1&quality=90&webp=90&avif=80&ssl=1&fit=480%2C288)
Carioca, Medeiros é autor de clássicos como “Pressentimento”, “Peito vazio” e “O sol nascerá” — esta última, uma das mais emblemáticas parcerias com Cartola é, atualmente, tema de abertura da novela “Bom sucesso”, na voz de Zeca Pagodinho e Teresa Cristina. Ele foi parceiro também de bambas como Paulinho da Viola, Zé Ketti, Mauro Duarte, Hermínio Bello de Carvalho, entre muitos outros, de várias gerações.
![](https://ea9vhhuzko5.exactdn.com/wp-content/uploads/2019/09/xmorre-sambista-elton-medeiros.jpg.pagespeed.ic_.HJFogGGf8K-480x288.jpg?strip=all&lossy=1&quality=90&webp=90&avif=80&ssl=1&fit=480%2C288)
Uma das últimas aparições públicas do artista foi em 2017, no “Programa do Bial”, em que fez uma homenagem a Cartola. Elton estava afastado dos palcos desde 2014 quando teve um problema de visão que o levou à cegueira. A composição, porém, jamais largou (“Nunca parei de compor. Jogador de futebol é que é velho aos 40…”, afirmou em entrevista ao GLOBO em 2016 ).
![](https://ea9vhhuzko5.exactdn.com/wp-content/uploads/2019/09/xmorre-sambista-elton-medeiros.jpg.pagespeed.ic_.WELkmaIVPU-480x288.jpg?strip=all&lossy=1&quality=90&webp=90&avif=80&ssl=1&fit=480%2C288)
Apesar de ter nascido na Glória, foi em Brás de Pina que ele compôs seu primeiro samba, aos 8 anos. E foi lá também o início de sua trajetória no carnaval. Aos 16 anos, fundou o bloco Tupy de Brás de Pina (hoje escola de samba). Mais tarde, foi para a ala de compositores da Aprendizes de Lucas, onde ganhou sua primeira disputa de samba-enredo, em 1954.
O artista gravou alguns dos discos lendários do gênero, como “Samba na Madrugada” (com Paulinho da Viola), “Elton Medeiros” e “Quatro grandes do samba” ( com Nelson Cavaquinho, Candeia e Guilherme de Brito).
‘Carimbado’ para a música
Sua formação musical foi variada: na infância, foi integrante de um dos coros infantis criados por Villa-Lobos; na adolescência, frequentava concertos de domingo da Orquestra Sinfônica Brasileira no cinema Rex (“cansei de ver Pixinguinha tocando num bar da Galeria Cruzeiro e Radamés Gnattali na sala de espera do Odeon”, contava ao Globo em 2000).
No colégio interno, passou a integrar a banda de sopros, primeiro tocando saxhorn, depois trombone. Quando chegou perto de acabar a escola, preocupou-se: não teria dinheiro para comprar um instrumento próprio. Desabafou com maestro depois de um baile, disse que abandonaria a música, e ouviu: “Meu filho, se você já tocou até aqui é porque você nasceu carimbado. Quem nasce carimbado não pode abandonar a música. Se você fizer isso ela vai bater em você durante toda a sua vida”.
Resolveu então aceitar o carimbo. E nunca mais deixou de compor, sobretudo sambas.
Em 1965, integrou o elenco de Rosa de Ouro, espetáculo de Hermínio Bello de Carvalho dedicado a relembrar repertório de compositores como Paulo da Portela, Sinhô e Ismael Silva. Ao seu lado no palco, estavam Nelson Sargento, Paulinho da Viola, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Clementina de Jesus e Aracy Cortes.
Elton Medeiros, Nelson Sargento, Paulinho da Viola, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho e das duas damas, Clementina de Jesus e Aracy Cortes, que resgataram grandes compositores como Paulo da Portela, Nelson Cavaquinho, Cartola, Henrique Vogeler, Lamartine Babo, Sinhô e Ismael Silva.
Dono de uma personalidade forte, Elton não se furtava em fazer críticas ao rumo das escolas de samba nas últimas décadas e ao que considerava variações excessivamente comerciais do samba, como o pagode paulista dos anos 1990. Defensor da tese de que sem tradição não há evolução, ele se preocupava em ver “não só o samba, mas a música brasileira se transformando em um subproduto”, como costumava dizer.
— O brasileiro está deixando de ser bom dançarino — observava em entrevista a Mario Adnet, neste jornal, em 2000. — Vejo moças que dizem que estão sambando, mas na verdade parecem mais enceradeiras, o pé não está dizendo nada, ficam peladas para provocarem um certo erotismo mas a rítmica não rola.
Em 2001, também ao GLOBO, Paulinho da Viola dava um depoimento sobre o parceiro: “Adivinhar o sentido harmônico das melodias de Elton… São tão sofisticadas que às vezes é difícil achar os acordes. Para descobrir os caminhos harmônicos dele, a gente tem que ter muita sintonia, muita afinidade. Mas o mais importante é o resultado, a beleza da composição. A música fica com o traço dele bem definido”.
‘Causos’ que devem virar livro
Jornalista e amigo de Elton Medeiros, Moacyr Andrade registrou algumas histórias que Elton contava — ficcionais e relatos de sua vida — e reuniu um material que poderá virar um livro de contos inspirados no compositor. São “histórias de sambista”, segundo Andrade, que passou a anotar os “causos” que o compositor ditava após ele perder a visão.
— A coisa que mais caracteriza ele é a abrangência: era melodista, letrista, músico, instrumentista, pesquisador… e fazia tudo muito bem. Era dos melhores em todas as atividades — diz Moacyr Andrade — Outra característica importante dele é a sua extensão no tempo. Teve parceiros antigos e jovens, sendo um elo entre gerações do samba, e entre compositores do morro e autores mais letrados do mundo acadêmico. Fazia tudo com muito esmero e requinte.
Mundo do samba lamenta
Parceiros e admiradores de Elton Medeiros postaram mensagens nas redes sociais lamentando a morte do compositor. “Com certeza está sendo recebido com uma grande roda de samba!”, escreveu Nelson Sargento.
A cantora Teresa Cristina lembrou seu “jeito de cantar diferenciado” e definiu o bamba como “Um gigante”.
Elton, um dos maiores melodistas q eu tive a graça de conhecer e conviver. Elton ranzinza q me dava broncas-a última foi no programa do Bial, corrigindo uma nota em O sol nascerá. Elton dono da versão mais linda e espetacular de Acontece, do seu parceiro Cartola. pic.twitter.com/K1WOXDYX6e
— Teresa Cristina (@1TeresaCristina) September 4, 2019