Apoiada pelo edital Mais Cultura nas Universidades, a 1ª Mostra Competitiva de Cinema Negro Adélia Sampaio transcorrerá, ao longo da semana, na Universidade de Brasília (UnB), com acesso livre para interessados em questões ligadas ao cinema e à representatividade negra. Um festival de 18 filmes de amanhã a quinta-feira, sempre às 17h, trará o caráter competitivo, com filmes de várias regiões do Brasil projetados no Anfiteatro de Ciências da Saúde. Além disso, outro bloco — com 26 filmes — será mostrado, em exibição paralela na UnB.
Hoje, às 14h, depois da exibição do curta Alma no olho, de Zózimo Bulbul, que traz traça paralelo com a escravidão e os anos de 1970, haverá a abertura do evento, com o debate Cinema Negro no Feminino, que terá participações da professora Edileuza Souza e das realizadoras Flora Egécia e Viviane Ferreira. Sempre no Auditório da Faculdade de Comunicação, os debates seguem; amanhã, com o tema Mulheres negras frente ao mercado e políticas do audiovisual, com as diretoras Kênia Freitas e Viviane Ferreira e, na quarta, as convidadas Ceiça Ferreira e Urânia Munzazu discutem A representação das mulheres negras no cinema.
Além disso, pela manhã (sempre depois das 9h), cursos serão ministrados no Centro de Convivência Negra, com enfoque em fotografia e produção e, na sexta-feira, destaque para a oficina sobre roteiro com a cineasta Érika Bauer. Na gama de filmes a serem mostrados estão Beatitude, de Délio Freire e Edilamar Fogos, atento à reinterpretação do mito da escrava Anastácia e O dia de Jerusa, dirigido por Viviane Ferreira e estrelado por Léa Garcia. No filme, uma mera pesquisa de campo coloca em contato mundos muito diferentes de duas desconhecidas.
Amanhã, o bloco competitivo traz títulos como Hotel da loucura, de Mariana Campos e Raquel Beatriz, longa que examina a atuação de especialistas de saúde em ação de educação popular na lida com pessoas associadas ao Instituto Municipal Nise da Silveira (RJ) e o curta Blackout, no qual Jocilene Valdeci apresenta como sinopse “um filme sobre o invisível”. Nas exibições de quinta-feira, há destaque para A boneca e o silêncio, de Carol Rodrigues, que trata sobre uma gravidez indesejada.
Ceiça Ferreira é Doutora em Comunicação pela Universidade de Brasília
Três perguntas // Ceiça Ferreira
Como se deu a aproximação com o tema do cinema feito por mulheres negras?
Como pesquisadora de cinema da UEG (Universidade Estadual de Goiás), destaco que o aprofundamento do tema veio com o mestrado (entre 2008 e 2010), na Universidade de Brasília (UnB). Naquela época, analisei o primeiro longa de Glauber Rocha, Barravento (1962), porém, mais detida na representação do candomblé. Percebi, no entanto, que a personagem Cota (Luiza Maranhão), mesmo sem ser vítima, justamente num movimento de cinema novo, que propunha mudança técnica e estética, incorria na objetificação da mulher. O trabalho de articular as discussões veio naturalmente, ao lado da professora Edileuza Penha de Souza, que me ajudou no doutorado, e costuramos o trabalho em comum, já que ela tem projeção em disciplina ligada ao cinema africano.
Como foi o processo do doutorado e que percepções repassará aos interessados do atual festival exibido na UnB?
Na UnB, explorei um mestrado, concluído ano passado, sobre representação de gênero e raça. Abordei filmes produzidos entre 1999 e 2009, na tese Mulheres Negras e (In)visibilidade: Imaginário sobre a Intersecção de Gênero e Raça no Cinema Brasileiro Contemporâneo. Nos estudos, me detive em Orfeu (1999), Besouro (2009) e Bendito fruto (2004). Na mesa de debates, gosto de ressaltar a recepção dos filmes e ver como nós temos dificuldades para extrapolar visões estereotipadas das personagens negras. Trato da recepção, já fiz estudos com idosos, mulheres e estudantes, e é notória a dificuldade de avanço. No caso do Bendito fruto, pela via da comédia, a personagem de Zezeh Barbosa subverte o lugar típico da empregada negra, mas as pessoas teimam em não enxergar, estando presas ao olhar forjado em estereótipo. Zezeh se impõe, mas ainda pendem situações de desigualdades. É difícil, para muitos, dissociar a figura da mulher negra, erotizada e subserviente.
Não houve avanços na questão?
Tem havido um movimento grande, em termos de realizadoras de curtas-metragens, e que falam sobre si: apesar do sexismo e do racismo, conseguem produzir, sob novas formas, e que tem por resultado representações bastante diferenciadas. Quanto aos longas, o número é pequeno, até mesmo em se tratando de diretoras brancas. Um estudo da UERJ aponta que “não existem mulheres na faixa dos cinemas de grande bilheteria”. A visibilidade nacional tem ocorrido, com diretoras como Yasmin Thayná, Larissa Fulana de Tal, Carol Rodrigues e Renata Martins. Há quantidade e diversidade. A iniciativa do movimento Filmes de Preto, com Vanessa Gouveia, Raphael Gustavo da Silva e Tothi Cardoso, também é muito afirmativa.
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