Movimento Negro Unificado 1978-1988: 10 anos de luta contra o racismo São Paulo: Confraria do Livro, 1988

Fonte: História no Magistério –

por: Jônatas C. da Silva –

 

SILVA, Jônatas C. da “História de lutas negras: Memórias do surgimento do movimento negro na Bahia”, pp. 7-19

 

“(…) Arani Santana diz que as mulheres se sentiam alijadas, à margem do movimento. Havia, dentro do movimento, uma divisão sexual do trabalho que refletia atitudes preconceituosas. Os homens achavam que trabalho mesmo era panfletagem nas ruas e nos ensaios de blocos. As mulheres, que até chegaram a fundar a Frente Negra Feminina, apresentaram, na época, uma proposta concreta de atuação na área de educação para alfabetizar adultos pelo método Paulo Freire (não devemos esquecer que havia muitas professoras no grupo) e a proposta não recebeu a devida atenção do coletivo predominantemente masculino” (p. 14 – sobre o movimento negro unificado na Bahia. Arani Santana era “professora e atriz, remanescente de fase inaugural do MNU”)

 

Carta de princípios do MNU (pp. 18-19)

 

Nós, membros da população negra brasileira – entendendo como negro todo aquele que possui na cor da pele, no rosto ou nos cabelos, sinais característicos dessa raça -, reunidos em Assembléia Nacional, CONVENCIDOS da existência de:

 

– discriminação racial

– marginalização racial, política, econômica, social e cultural do povo negro

– péssimas condições de vida

– desemprego

– subemprego

-discriminação na admissão em empregos e perseguição racial no trabalho

– condições subhumanas de vida dos presidiários

– permanente repressão, perseguição e violência policial

– exploração sexual, econômica e social da mulher negra

– abandono e mal tratamento dos menores, negros em sua maioria

– colonização, descaracterização, esmagamento e comercialização de nossa cultura

– mito da democracia racial

 

RESOLVEMOS juntas nossas forças e lutar por:

– defesa do povo negro em todos os aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais atravésda conquista de:

– maiores oportunidades de emprego

– melhor assistência à saúde, à educação e à habitação

– reavalização do papel do negro na história do Brasil

– valorização da cultura negra e combate sistemático à sua comercialização, folclorização e distorção

– extinção de todas as formas de perseguição, exploração, repressão e violência a que somos submetidos

– liberdade de organização e de expressão do povo negro

 

E CONSIDERANDO ENFIM QUE:

– nossa luta de libertação deve ser somente dirigida por nós

– queremos uma nova sociedade onde todos realmente participem

– como não estamos isolados do restante da sociedade brasileira

 

NOS SOLIDARIZAMOS:

a) com toda e qualquer luta reinvidicativa dos setores populares da sociedade brasileira que vise a real conquista de seus direitos políticos, econômicos e sociais;

b) com a luta internacional contra o racismo.

 

POR UMA AUTÊNTICA DEMOCRACIA RACIAL!

PELA LIBERTAÇÃO DO POVO NEGRO!

 

“Por uma autêntica democracia racial”, pp. 20-25

 

“A História e a Ideologia oficiais tem ‘explicado’ que a situação vivida pela comunidade negra indicam que as relações de dominação e ‘inferioridade’ econômica e social da população negra, seriam ‘tão-somente’ uma decorrência direta dos tempos escravistas e coloniais – espécie de herança que desaparecerá (naturalmente) com o tempo. Posto isso, afirmam que no Brasil não haveria racismo, mas simples discriminações e preconceitos sociais, ou seja: o negro é rejeitado por ser pobre e não por ser negro” (p. 21)

 

“(…) os abolicionistas, entre eles Joaquim Nabuco, em momento algum de sua documentada campanha abolicionista, coloca a necessidade de além da libertação, conferir aos negros o ‘status’ de cidadão isto é, assegurar-lhe seus direitos ao trabalho, ao salário condigno, e à vida. Ao contrário, a Campanha Abolicionista primou pela defesa dos interesses da classe dominante e pela visão branqueadora da sociedade brasileira, ao defender, ao mesmo tempo a vinda do imigrante para as lavouras de café para substituir os trabalhadores, então Livres (maioria da população) e do escravo (já então minoria). O Negro ‘quando livre’, se vira na contingência de ver seu espaço no processo produtivo (mercado de trabalho) ocupado pelo imigrante, que no Brasil chegava sem nada e com total dependência do fazendeiro-empregador, sendo obrigado a aceitar condições semi-escravas de trabalho, o que recusava, revolucionariamente, os negros livres e libertos

Além disso, a Abolição manteve e garantiu os privilégios raciais e de classe, gerados pela ordem escravista. A marginalização da população negra será acompanhada de todo um pensamento racista, que negava a expropriação da comunidade negra e atribuía à sua suposta inferioridade racial, os problemas de desemprego, miséria e fome que sofria. Se na escravidão o racismo serviu para justificar a dominação da classe escravista, na sociedade de classes o racismo servirá para escamotear a expropriação do trabalhador negro, a negação de sua cidadania e de seus direitos à escolaridade, à moradia, ao trabalho e ao salário (…)

Até a década de trinta, a elite dominante e seus porta-vozes intelectuais, atribuiam o subdesenvolvimento do Brasil à raça de seu povo, os negros e os índios pregando abertamente o branqueamento da sociedade, via imigração européia e a miscigenação (…)” (p. 22)

“Movimentos negros, sociais e políticos no século XX”, pp. 64-79

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