Mulher negra no STF, nove nomes

Escolha não é identitarismo, é ocupar o poder para reparação histórica

Pessoas negras têm nome e sobrenome e trajetórias construídas coletivamente, por vezes longe dos tapinhas nas costas em Brasília ou das rodas de vinho em Portugal. É hora de pararmos de demandar em abstrato que Lula nomeie uma jurista —e, sobretudo, negra— ao STF; devemos dizer seus nomes. Escolher uma mulher negra progressista não é identitarismo. É política em sentido puro; é ocupar o poder para reparação histórica.

Listo aqui nove juristas, sem prejuízo de outras. Começo com três nomes de juízas negras, que já destoam da regra: estima-se que mulheres negras ocupem apenas 7% do Judiciário e tão somente 2% na segunda instância.

A juíza e professora de direito Adriana Cruz – Zo Guimaraes – 9.dez.2020/Folhapress – Folhapress

Minha favorita, Adriana Cruz é juíza titular no Rio de Janeiro, doutora em direito penal pela Uerj e professora na PUC-Rio —deverá ser secretária-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Outras duas juízas negras despontam como excelentes nomes: Karen Luise Souza, do TJ-RS, que ocupa o Comitê Executivo do Observatório de Direitos Humanos do Poder Judiciário no CNJ e auxilia Rosa Weber; e Flávia Martins de Carvalho, do TJ-SP, diretora de Promoção da Igualdade Racial da Associação de Magistrados do Brasil.

Tirar o foco do eixo sudestino também é fundamental. Outra favorita, Lívia Sant’Anna Vaz é promotora de Justiça no Ministério Público da Bahia, doutora em ciências jurídico-políticas em Lisboa e foi nomeada uma das 100 pessoas de descendência africana mais influentes do mundo. Já Vera Lúcia Araújo é advogada baiana com longa e respeitada trajetória, chegando a ter integrado a lista tríplice do TSE em 2022. Dentro da academia e advocacia pretas, não posso deixar de citar Thula PiresSilvia Souza Alessandra Benedito.

A promotora de Justiça Lívia Sant’Anna Vaz, do Ministério Público da Bahia – Karime Xavier/Folhapress – Folhapress

Já Joenia Wapichana se destaca como a primeira advogada indígena a fazer sustentação oral no Supremo, e sua nomeação seria uma reparação aos anos de morticínio.

O STF somente será equânime quando tivermos 11 mulheres na corte e ninguém achar isso estranho: não achavam quando eram apenas homens por 110 anos até os anos 2000.

+ sobre o tema

Relacionamentos inter-raciais: amor, afeto e desafios

Relacionamentos exigem disposição, cuidado, paciência e muito respeito. Mas...

RJ: Apenas 244 processos de racismo chegaram ao fim em 30 anos

Na média, os números apontam que foram julgado oito...

Falta de negros no Direito gera discriminação em condenações, diz advogado

Os negros são 54% da população brasileira, mas apenas...

para lembrar

Vilma Nascimento, histórica porta-bandeira da Portela, afirma que foi vítima de racismo

Uma referência da Portela, uma das escolas de samba...

No ‘Diversidade em ciência’ (rádio USP) Rosângela Malachias fala sobre mídia e etnia

  Por Ricardo Alexino Ferreira para o Portal Geledés  No ‘Diversidade em...

Veja comentários sobre raça e racismo rebatidos por especialistas

Para que alguns de nossos leitores parem de passar...

A palavra é rolezinho – Por: Carla Rodrigues

    O Brasil tem 495 shopping-centers, nos...
spot_imgspot_img

Até um dia, Roya. Rest in power, minha irmã

"Tudo o que sei sobre a dificuldade de sustentar a democracia no Brasil é tão parecido com o que enfrentamos no Sudão", disse Roya...

OAB suspende registro de advogada presa por injúria racial em aeroporto

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) suspendeu, nesta terça-feira (25), o registro da advogada Luana Otoni de Paula. Ela foi presa por injúria racial e...

Ação afirmativa no Brasil, política virtuosa no século 21

As políticas públicas de ação afirmativa tiveram seu marco inicial no Brasil em 2001, quando o governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho sancionou...
-+=