sinto muito, amiga, mas não posso.
Enviado por Lelê Teles para o Portal Geledés
e não é por ser eu quem sou, ou por ser tu quem tu és.
é que… eu não tenho como negar a minha natureza.
explico-me. explico-te.
nós – saiba disso de um vez por todas – não é o plural de eu, nem o plural de tu.
eu não tem plural. eu é conceitualmente singular.
melhorehor, portanto, nos aceitarmos em nossa singularidade.
explico-me ainda melhor.
nós é um eu estendido. é o resultado do encontro de dois eus.
o meu com o teu. e o teu com o meu.
ah, antes que eu me esqueça:
tu e ele ou tu e ela também não são nós.
tu e ela ou tu eles são vocês.
nós somos tu e eu.
porém, eu, tu e ele, ou eu tu e ela, somos nós também.
eu, tu e eles, ou eu tu e elas, também somos nós.
nós pode ser a realização compartilhada de vários eus.
ou não.
e nós só somos nós até então porque cada um é seu, cada eu é um, cada um não é o outro.
e só quando mergulhamos um dentro do outro, argonautas perdidos em universos hídricos, encontramos finalmente o nosso eu plural, a nossa parte que se funde e se confunde, e que nunca se finda.
mais ainda, só nos tornamos verdadeiramente um no dia em que nos fizemos três.
e vês, ela jamais seria um eu se não fôssemos nós.
percebes, sem deixar de ser quem somos foi que nos tornamos outro.
se é verdade que não precisamos deixar de ser um para sermos dois, foi necessário que nós dois fôssemos apenas um para nos convertermos em três.
ei, pois, o nó que nos atou em nós.
palavra da salvação.
Lelê Teles