Não tenha medo de usar as palavras certas: machista, racista, homofóbico…

Muitas empresas não dizem mais que “demitiram” 1.300 empregados. Falam que “descontinuaram os contratos” ou “interromperam o relacionamento” com os empregados. Ops, desculpe. Isso também mudou de nome: “colaboradores”.

Foto: Flávio Florido

Por: Leonardo Sakamoto, do Blog do Sakamoto

 

Um amigo da área de RH de uma multinacional disse que não sabia onde enfiar a cara quando chamou um homem muito, muito simples para informar que ele seria descontinuado. “O senhorzinho não entendia nem por um decreto que estava sendo demitido”, diz ele – que teve que apelar para o método antigo, quando foi claramente compreendido.

Os “jênios” que inventaram isso para facilitar a vida das empresas esqueceram que não adianta flambar merda com azeite trufado e polvilhar com sal retirado do deserto de Gobi e especiarias do Rajastão. No final, vai continua sendo merda.

Em outras palavras, seguirá sendo um “pé na bunda”, uma “degola”, um “chute no traseiro” e tantos outros sinônimos populares criados para explicar uma demissão.

Enfim, é natural que a língua evolua. Mas algumas coisas deveriam continuar sendo chamadas pelo que realmente são.

Uma porrada no rosto da namorada não é “desentendimento de casal”.

Um espancamento de uma criança pelos adultos responsáveis não é “corretivo”.

Uma tentativa de estupro ou de violência sexual não é “forçar a barra”.

Da mesma forma que a pessoa que defende que brancos tenham mais direitos efetivados que negros e indígenas, que homens devem mandar e mulheres, obedecer, que ricos precisam ser mais protegidos do que pobres, que ciclistas são comunistas e devem ser combatidos, que mulher que aborta deve ir presa e que casamento homoafetivo deveria ser proibido, não está “exercendo simplesmente seu direito à liberdade de expressão”.

Essa pessoa está simplesmente sendo ridícula.

Isso tem cura, claro. Passa por conscientização e carinho.

Mas, até lá, vai continuar sendo ridícula.

E, para que entenda que está sendo ridícula, vale – com muita educação – chamar suas atitudes pelo nome correto. Machista, racista, homofóbica, preconceituosa…

Pois, palavras têm o poder que conferimos a elas. E violência, na verdade, é manter o silêncio diante da injustiça.

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