O descaso com a população quilombola, em Alagoas, é obsceno

por Arísia Barros

Dona Irinéia Rosa Nunes da Silva tem 64 anos é quilombola de Muquém e reconhecida artesã.

É artista do barro, por execelência, segundo análise geral.

Os quilombolas de Muquém sobrevivem da venda do artesanato em argila.

A Comunidade Quilombola de Muquém fica na zona rural de União dos Palmares, a 80 quilômetros de Maceió,em Alagoas.

Vítimas da enchente de junho de 2010 faz um ano e três meses, que aguardam as casas prometidas, afogadas pelas águas, que pôs a olho nu a pobreza e as impossibilidades da condição de vida dos quilombolas de Muquém .

Pobreza que causa grave lesão a dignidade humana dos descendentes de Palmares.

A enchente destruiu mais de mil peças de argila de D. Irinéia que estavam no forno para serem queimadas.

As famílias perderam a casa e a privacidade. Só não perderam a vida graças à jaqueira, que as protegeu.

Perderam as casas e foram confinados em espaços sub-humanos, capazes de destruir a saúde, a mente.

Um descarte social removível e transportável.

Dona Irinéia foi homenageada nesta sexta-feira, 16 de setembro, no Desfile Cívico em comemoração dos 194 anos de emancipação política do estado Alagoas, com mais outras vinte mulheres,entre professoras, artesãs mestras do folclore,etc.

Em 1817, Alagoas emancipou-se de Pernambuco e nos dias atuais tornou-se refém de Brasília.

É um estado federalizado.

Durante o desfile, ao ser entrevistada, D. Irinéia foi intérprete de seu povo, como uma voz rasgando o silêncio cúmplice da omissão estatal.

A artesã quilombola agradeceu a homenagem e sem pedir licença penetrou nos labirintos da premeditada invisibilidade social, ao enfatizar que estava ali para apresentar o “seu” povo do sítio Muquém e dizer que “estamos tudo sofrendo, nas barracas”… E que a construção das casas tá muito lento…

As casas, D. Irinéia, com certeza chegarão em 2012. Com direito a festa, tapinha nas costas e café da manhã no Quilombo, com a participação das muitas “Vossas Excelências”, traduzindo a força da colônia que, ano após ano,século após século promove o separatismo social, com o difundido molde hierarquizada do patriarcalismo que inclui os desiguais com o fim tão somente de exercer o controle.

O estado inclui com a opressão escravocrata do pensamento único

Irinéia é um nome grego que quer dizer pacífica.

O descaso com a população quilombola, em Alagoas, é obsceno!

Tu liberdade formosa!

Emancipação?

Fonte: Raizes da África

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