Polícia mata ciclista negro a tiros por suposta violação de trânsito nos EUA

Um ciclista negro foi baleado e morto pela polícia de Los Angeles, no mais recente caso de morte de um cidadão negro por policiais norte-americanos, e o Departamento de Polícia e um advogado que representa a família do homem ofereceram relatos divergentes hoje sobre o incidente.

O ciclista, Dijon Kizzee, de 29 anos, foi baleado mais de 20 vezes pelas costas na tarde de ontem, após dois adjuntos do xerife tentarem pará-lo por uma violação do código de trânsito para ciclistas, disse Benjamin Crump, que afirmou representar a família de Kizzee.

O Departamento de Polícia de Los Angeles diz que Kizzee, cuja identidade foi confirmada pelo legista do condado, foi baleado menos de 20 vezes após ter deixado cair uma arma de fogo que levava e ter acertado um soco em um dos oficiais.

A morte provocou novos protestos na cidade por manifestantes furiosos com os casos de violência contra pessoas negras pela polícia. Tais protestos se tornaram uma ocorrência praticamente diária pelo país após o assassinato de George Floyd, um homem negro que estava sob custódia policial em Mineápolis, em maio.

“Vocês não matam nenhuma outra raça, só a gente, e não faz sentido”, disse Fletcher Fair, tia de Dijon Kizzee, a jornalistas no local do incidente, nesta terça-feira, onde ativistas pediam que uma investigação independente fosse conduzida pelo procurador-geral da Califórnia. “Por que a gente?”

Os protestos também continuaram em Kenosha, no Wisconsin, após um policial branco balear Jacob Blake, um homem negro, sete vezes pelas costas e à queima-roupa, deixando-o paralisado, e os distúrbios se tornaram uma grande questão antecedendo as eleições presidenciais de novembro.

O presidente Donald Trump, do Partido Republicano, chegou a Kenosha hoje buscando reunir sua base de apoiadores brancos defendendo a polícia das críticas em relação à brutalidade.

Kizzee pedalava sua bicicleta na tarde de segunda-feira no bairro de Westmont, em Los Angeles, quando dois adjuntos de xerife que estavam em um carro tentaram fazer com que ele parasse.

Kizzee abandonou sua bicicleta e correu por uma quadra, sendo perseguido pelos policiais, segundo Brandon Dean, um porta-voz do Departamento do Xerife, disse a jornalistas na noite de segunda-feira. Kizzee então acertou um soco no rosto de um dos oficiais, deixando cair um amontoado de roupas que levava, afirmou o departamento.

Os policias disseram que uma arma de fogo semi-automática estava dentro do pacote de roupas, e os dois começaram a atirar em direção a Kizzee, segundo o departamento.

Dean não soube dizer qual parte do código de trânsito para ciclistas havia sido desrespeitada por Kizzee, ou quantas vezes ele teria sido alvejado, dizendo que foram menos do que 20 vezes. Seu gabinete se recusou a responder perguntas sobre o caso e sobre a situação dos dois oficiais envolvidos.

O legista do condado iria conduzir hoje uma autópsia de Kizzee.

Entretanto, Crump, um advogado especialista em direitos civis conhecido por representar vítimas negras de violência policial em todo o país, escreveu no Twitter: “Eles dizem que ele correu, derrubou roupas e uma arma. Ele não pegou a arma, mas os policiais o balearam pelas costas mais de 20 vezes e o deixaram por horas”.

Crump pediu pelo Twitter para que as pessoas o enviassem vídeos do incidente, dizendo que adjuntos de xerife não são requisitados por lei a usarem câmeras no uniforme para registrarem suas ações.

 

+ sobre o tema

Pra quem caiu a letalidade policial?

Lá fui eu ler a matéria nesta Folha com...

Legado de Sobrevivência

Arrancaram-nos de nossas origens. Invadiram e tomaram nossas terras. Nós, afro-brasileiros...

Imprensa internacional repercute massacre no Jacarezinho

A chacina resultante de uma operação da Polícia Civil...

Nota pública da Comissão Arns

Repúdio à violência policial contra jovens de Paraisópolis Da Comissão...

para lembrar

Dívida a ser paga por Vivaldo Barbosa

Vivaldo Barbosa, ex-deputado federal e professor da Unirio Estabeleceu-se...

Dona de rapadura confundida com crack vai à Justiça

A defesa da professora Angélica Jesus Batista (foto),...

Com nova igreja definida, padre vítima de racismo só espera “ser acolhido”

Grupo de moradores pediu sua saída de paróquia em...

Polícia de SP investiga caso de racismo em vagão do Metrô

A Polícia Civil de São Paulo investiga um caso de...
spot_imgspot_img

Ação afirmativa no Brasil, política virtuosa no século 21

As políticas públicas de ação afirmativa tiveram seu marco inicial no Brasil em 2001, quando o governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho sancionou...

Decisão do STF sobre maconha é avanço relativo

Movimentos é uma organização de jovens favelados e periféricos brasileiros, que atuam, via educação, arte e comunicação, no enfrentamento à violência, ao racismo, às desigualdades....

Por que o racismo é uma crise de saúde

Quando Layal Liverpool era adolescente, na Holanda, ela começou a observar pequenas manchas sem pigmento no rosto e nos braços. O médico receitou antibióticos e...
-+=