Professor universitário é condenado a pagar multa por racismo

 Segundo o MPF, ele teria feito considerações preconceituosas em aula.

Réu dá aulas de Agronomia na Universidade Federal do Rio Grande Sul. –

Do G1, em São Paulo –

 

A 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) condenou, nesta terça-feira (28), um professor da faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) a pagar multa civil por ato de racismo. O professor foi denunciado em ação civil pública pelo Ministério Público Federal (MPF) por ter feito em aula comentários racistas. Ele poderá recorrer da decisão.

Segundo o tribunal, conforme a denúncia do MPF, o acusado teria dito durante o primeiro dia de aula da disciplina ?Leguminosas de Grãos Alimentícios?, em março de 2000, as frases: ?os negrinhos da favela só tinham os dentes brancos porque a água que bebiam possuía fluor? e ?soja é que nem negro, uma vez que nasce é difícil de matar?.

À época, foi aberta uma comissão de sindicância na faculdade, que concluiu que não havia conotação racista nas afirmativas do professor e que este tinha ?o intuito de criar um ambiente mais descontraído no primeiro dia de aula?, e ainda, que teria feito uso de expressões informais usuais no meio rural relacionadas à raça negra.

O MPF ajuizou a ação, julgada pela 6ª Vara Federal de Porto Alegre, que foi considerada improcedente. A Procuradoria recorreu ao TRF alegando que houve ação discriminatória e racista e provocado constrangimento e indignação em todos os presentes, principalmente o único aluno negro presente.

Defesa

O acusado se defendeu alegando ter dito as frases sem intenção pejorativa e que valera-se de ditado corrente na zona rural, costumeiro em agricultores de origem italiana, que teria um conteúdo positivo, relativo ao vigor da raça negra. Entretanto, conforme alunos que testemunharam o fato, ele teria se retratado ao final da aula e em aulas posteriores tentado intimidar o aluno ofendido.
De acordo com o TRF, o relator do processo, juiz federal Roger Raupp Rios, entendeu que ?é inequívoca a violação dos princípios da legalidade, da impessoalidade e da moralidade?. Segundo o magistrado, um professor com o grau de intelectualidade do réu não teria como ignorar o conteúdo racista nas expressões utilizadas.

O professor foi condenado a pagar multa civil no valor de uma remuneração mensal do seu cargo universitário, que será destinada ao fundo da ação civil pública, incluídas todas as vantagens e adicionais que recebia quando ocorreu o fato.

Matéria original: Professor universitário é condenado a pagar multa por racismo

+ sobre o tema

para lembrar

“Imaginar pessoas negras no futuro já é por si só ato de resistência”, afirma autora GG Diniz

Segundo o historiador e filósofo camaronês Achille Mbembe, nos...

Autoridades abrem reunião da ONU sobre Década Internacional de Afrodescendentes

Ministra Nilma Lino Gomes discursou na abertura Do SEPPIR Gestores de...

“Quando a vida das mulheres negras começar a ganhar importância, o mundo será transformado”

Duas semanas passaram-se da morte da deputada Marielle Franco...

Juventude Viva vai investir R$ 70 milhões em combate à violência

Segundo dados do Ministério da Saúde, 53% dos homicídios...
spot_imgspot_img

OAB suspende registro de advogada presa por injúria racial em aeroporto

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) suspendeu, nesta terça-feira (25), o registro da advogada Luana Otoni de Paula. Ela foi presa por injúria racial e...

Ação afirmativa no Brasil, política virtuosa no século 21

As políticas públicas de ação afirmativa tiveram seu marco inicial no Brasil em 2001, quando o governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho sancionou...

Decisão do STF sobre maconha é avanço relativo

Movimentos é uma organização de jovens favelados e periféricos brasileiros, que atuam, via educação, arte e comunicação, no enfrentamento à violência, ao racismo, às desigualdades....
-+=