Quem não tem senso de loção cria conflito de fragrâncias

Por Fátima Oliveira

A escola não pode consagrar a misoginia e o machismo

Acabei de crer também que quem não tem senso de loção não educa ninguém. A Uniban deu atestado. Fala por si o título da nota paga – “Responsabilidade educacional – A educação se faz com atitude e não com complacência” – para “Desligar a aluna Geisy Vila Nova Arruda do quadro de alunos da instituição em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade”. Caetano assinou manifesto em defesa da moralidade da Uniban? Não creio! De qualquer modo, ninguém merece meu presidente!

Poupando meu latim com quem não sabe usar vírgula e nem distinguir moral de ética, mas em nome delas expulsa uma aluna vítima de violência em suas dependências, classificar a nota da Uniban de expressão da moralidade taleban é ofensa inominável aos talebans, que têm direito à moralidade que escolheram para guiar as suas vidas, concorde-se ou não com ela. O inaceitável é empurrá-la goela abaixo a quem dela não comunga. É pedagógico que os danos emocionais e morais sofridos por Geisy sejam reconhecidos, inclusive pecuniariamente. Há gente que só entende quando tira uns cobres do bolso.

A atitude da Uniban está nos conformes das Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP) de qualquer comércio troglodita, cuja regra única a ser respeitada é não perder dinheiro. E, se for inevitável, escolhe-se o menor prejuízo. É preferível perder uma aluna a vários. Questão de caixa. E de esperteza de marketing. Depois de tanta exposição midiática, a Uniban pode deitar em berço esplêndido. Nunca mais precisará de propaganda para dizer que existe!

A estilista inglesa Mary Quant, inventora da saia de 30 cm (minissaia), não supôs que a “tesourada que um dia deu no vestido da manequim Twiggy tivesse um impacto tão grandioso” e longo nos saudosistas da moralidade vitoriana… “O hábito faz o monge” ou “O hábito não faz o monge, mas fá-lo parecer de longe?” É bom pensar. Filosofia, sociologia e antropologia da moda existem. Escola que não possui uniforme não pode exigir vestuário padronizado.

Eu esperava que fosse do naipe do puritanismo vitoriano a postura da Uniban, tanto que escrevi: “Aí, meus sais! É pra rasgar dólar e cuspir bala (Pare o mundo que eu quero descer pra virar lenda” O TEMPO, 3.11.2009). O episódio dá asas. Considerando que moda é cultura, tenho filosofado sobre o tema de modo memorialístico – meus uniformes escolares: do primário ao término do magistério usei saia azul pregueada, que cobria os joelhos, blusa branca e sapatos pretos com meias brancas. Contemporânea da invenção da minissaia (1960), a dimensão da transgressão era ser levada à secretaria para desenrolar o cós da saia ou desmanchar a bainha que a encurtava. Na década de 70, a universidade era um mar de calça Lee, camiseta Hering branca e sandália franciscana. Era a moda.

O Brasil pode ser uma bodega (amo bodegas!), mas possui mandatário que deve zelar pelos preceitos constitucionais. O presidente Lula precisa dar uma de presidente Eisenhower, que garantiu, sob escolta de tropas nacionais, em 1957, que “Os Nove de Little Rock” permanecessem na Central High School, onde matriculados não podiam entrar por ordem do governador racista do Arkansas. Espera-se de Lula o mesmo gesto contra a misoginia e o machismo que Eisenhower teve contra o racismo: transpor as soleiras da Unibam e colocar Geyse em sala de aula! É o único modo de demonstrar que em território brasileiro a escola não pode consagrar a misoginia e nem o machismo.

 

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