Shoppings pediram retirada de ‘rolezinho’ do Facebook, diz Abrasce

Associação diz que comentários em site indicavam possíveis tumultos.
Secretaria de Segurança diz que PM não fará segurança preventiva.

 

O presidente da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), Luiz Fernando Veiga, afirmou nesta quarta-feira (15) que centros comerciais pediram a retirada de páginas no Facebook que convocavam jovens para “rolezinhos”.  Sem dar detalhes, Veiga disse que representantes de “dois ou três shoppings” relataram ter solicitado a retirada de páginas da rede social.

A Abrasce realizou, na tarde desta quarta-feira em São Paulo, reunião com representantes de 55 shoppings. Segundo Veiga, os empreendedores se reuniram para definir “boas práticas” para evitar problemas com os rolezinhos.

 

Procurado pelo G1 após relatos de internautas de que os eventos tinham sido apagados, o Facebook negou ter deletado páginas. “O Facebook não agiu sobre nenhum dos eventos mencionados, que podem ter sido eliminados por seus criadores ou passaram por alteração de configuração de visibilidade”, afirmou o site.

O presidente não citou o nome dos shoppings que buscaram tirar do ar página sobre os eventos, mas disse que a decisão foi tomada porque comentários indicavam que jovens pretendiam fazer badernas no local.

“É muito difícil, porque eles saem do Facebook e vão para o Whatsapp. São atitudes de prevenção e eu costumo dizer o seguinte: mas pelo menos são obstáculos. (…) Não sei se é a Justiça ou se foi o próprio Facebook”, explicou.

Nas páginas da rede social retiradas do ar havia “ameaças concretas de ilegalidade”, como referência ao uso de drogas e a incitação a atos de vandalismo dentro do centro de compras, de acordo com Veiga. “Essas pessoas pediram a retirada porque ali naquelas programações do ‘rolezinho’ havia atitudes absolutamente criminosas e ilegais. Citaram algumas coisas. Por exemplo: ‘Você leva a sua maconha e eu levo a minha que vamos fumar lá no shopping; Nós precisamos ir para lá para entupir todos os vasos sanitários; Nós precisamos ir para lá para interromper o uso das escadas rolantes.’ E outras coisas mais que foram ditas em termos de coisas ilegais”, ilustrou.

 

Sem listar ações específicas, Veiga disse que a entidade não vai entrar com nenhum tipo de medida contra os encontros e que cada shopping deve avaliar suas próprias ações preventivas. Ele afirmou que os empreendedores se viram “diante de um problema que se alastrou” e do qual esperam que “tenha um fim”.

Veiga disse concordar com declarações do secretário de Segurança Pública de São Paulo (SSP), de que a PM só deve agir em caso de necessidade.

O presidente da Abrasce disse ainda ver com preocupação relatos divulgados pelo jornal “Folha de S.Paulo” de que a presidente Dilma Rousseff tenha agendado reunião sobre o tema. “Tudo o que a gente não quer é que o Brasil descambe para vandalismo, agressão, porque isso prejudica a todos nós”, disse.

O presidente da Abrasce afirmou também que os shoppings não discriminam quem quer que seja, ao ser questionado sobre o fato de um segurança de shopping que seria alvo de um ‘rolezinho’ ter pedido a identidade para um frequentador. “Tenho absoluta convicção que não fazemos discriminação nos shoppings. O que não queremos é que se façam coisas arbitrárias dentro do shopping. Isso não é nenhuma discriminação, é uma tentativa a mais de preservar a segurança dentro do shopping”, declarou.

Segundo Veiga, os shoppings investem cerca de 30% do custo de condomínio com segurança. “O investimento é alto, por causa do treinamento, da escolha (do funcionário). Porque o objetivo é ter a segurança que o consumidor não encontra nas ruas”, afirmou. E é graças a esse treinamento, de acordo com ele, que os agentes de segurança dos centros de compra têm condições de avaliar o que pode ser considerado um comportamento inadequado ou não. “Se der uma escarrada no chão, não pode ser considerado um comportamento adequado. Assim como cinco mil pessoas entrarem no shopping e dispararem a correr “, disse.

Segurança preventiva
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo disse na tarde desta quarta-feira que policiais militares não vão fazer segurança preventiva de shoppings, informou o Globo Notícia. Para o secretário Fernando Grella, os chamados “rolezinhos” não são um problema de polícia. Ele esteve reunido durante a tarde com o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Benedito Roberto Meira, para discutir o tema.

Em nota, Grella defende que “o rolezinho não pode ser considerado crime, mas um fenômeno cultural, motivo pelo qual não deve ser tratado como caso de polícia”.

Abuso
Imagens gravadas por frequentadores do Shopping Itaquera mostram um policial militar agredindo com um cassetete jovens que supostamente participavam do “rolezinho” no centro de compras. É possível ouvir barulho de explosões dentro do estabelecimento. A PM negou a utilização deste tipo de artefato.

Em comunicado, a PM afirmou  que, “como os episódios atuais indicam uma forte potencialidade de problemas de segurança, a Instituição está atenta às movimentações de grupos e também tem monitorado as redes sociais para identificar possíveis focos de problemas”.

O que são os “rolezinhos”?
Desde o fim de 2013, jovens têm organizado encontros pelas redes sociais, principalmente, em shoppings da capital paulista e da Grande São Paulo. Os eventos ficaram conhecidos como “rolezinhos”. A primeira iniciativa a ganhar repercussão aconteceu no Shopping Metrô Itaquera, Zona Leste de São Paulo, em 8 de dezembro.  Algumas lojas fecharam com medo de saques e o centro comercial encerrou o expediente mais cedo.

Este tipo de encontro em lugares públicos-privados não é propriamente uma novidade em São Paulo. E não começaram especificamente no ano passado. Estacionamentos de supermercados e postos de gasolina também são corriqueiramente ocupados nas noites e madrugadas aos finais de semana por um grupo que quer se fazer ouvir – ou apenas se divertir – independentemente do estilo musical que entoa.

Rolé proibido
Na sexta-feira (10), a juíza Daniella Carla Russo Greco de Lemos concedeu liminar impedindo o “rolezinho” no Shopping Itaquera e estipulando multa de R$ 10 mil para os jovens que desrespeitassem a decisão.

Em seu despacho, ela aponta que a Constituição prevê direito à livre manifestação, mas que ela deve ser exercida com limites. “A Constituição Federal de 1988 estabeleceu diversas garantias fundamentais em seu art. 5º. Entre elas a da livre manifestação, o direito de propriedade, a liberdade do trabalho. O art. 6º garante, ainda, como direito social, a segurança pública, o lazer, dentre outros. O direito à livre manifestação está previsto na Constituição Federal”, afirma a juíza.

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Fonte: G1

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