SP lança programa de cotas sociais e raciais para a USP, Unesp e Unicamp

Meta do programa é ter 50% de ingressantes de escolas públicas em 2016.
Proposta do governo paulista precisa ser aprovada pelas universidades.

Por: Tahiane Stochero

O governo de São Paulo anunciou nesta quinta-feira (20) um programa que pretende garantir reserva de 50% das vagas de cada curso e cada turno das universidades estaduais paulistas (entre elas a USP, Unicamp, Unesp), para estudantes procedentes de escolas públicas, a partir de 2016. A proposta precisa ainda ser analisada e aprovada pelos conselhos das universidades.

O Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp) busca atingir a meta ao longo de três anos, a partir de 2014, quando 35% dos alunos ingressantes já deverão ser procedentes de ensino público. No segundo ano, a meta é atingir 43% dos alunos e, em 2016, 50%. Pela proposta, desta parcela para estudantes que fizeram o ensino médio em escola pública, 35% das vagas serão destinadas para jovens negros, pardos e indígenas. Ou seja, em 2016, 17,5% das vagas seriam preenchidas pela cota racial.

A iniciativa deve ainda ser aprovada pelos conselhos das universidades antes de entrar em vigor. Para o presidente do Conselho de Participação da Comunidade Negra do estado, Marco Alvarenga, a ideia ainda será negociada com as universidades. “É uma proposta, e como proposta ainda pode ser adaptada e alterada para atender ambas as partes”, disse.

O programa foi divulgado no Palácio dos Bandeirantes pelo governador Geraldo Alckmin e contou com a presença dos reitores da Universidade de São Paulo (SP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Universidade Estadual Paulista (Unesp). O programa contemplaria ainda a Faculdade de Medicina de Marília (Famema), Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), e as Faculdades de Tecnologia de São Paulo (Fatecs).

“Hoje, estamos dando um passo importante. As universidades já contam com propostas isoladas de inclusão. Inclusive as Fatecs contam com 75% dos seus alunos procedentes de escolas públicas. A ideia é um programa mais abrangente, para todo o estado. Já em 2014, teremos 35% dos alunos do ensino superior público paulista procedentes de escolas pública”, disse o governador, Geraldo Alckmin. “A universidade não pode ser só universal em seu conhecimento, mas também em sua abrangência social”, acrescentou o governador.

Cursos sequenciais
Para atingir a meta serão adotadas três principais estratégias. A primeira é a criação do Instituto Comunitário de Ensino Superior (ICES), em parceria com a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Segundo o presidente da Univesp, Carlos Vogt, o Ices vai oferecer cursos sequenciais com dois anos de duração que atenderão 40% do total das metas étnico-sociais para as cotas.

“Estamos focando neste curso o aluno que não entraria na universidade. Ele terá as disciplinas que foram iguais abatidas se vier a fazer outro curso superior”, disse o governador.

A seleção para o curso, que terá status de nível superior, será pelo desempenho dos candidatos pelo Enem, e não por vestibular. Ao término do primeiro ano, quem tiver 70% de aproveitamento terá ingresso garantido em cursos das Fatecs. Ao concluir o segundo ano, o aluno já terá ingresso garantido tanto em Fatecs quanto em universidades.
A partir de 2014, serão abertas 2 mil vagas no curso para alunos que cursaram integralmente o ensino médio em escolas públicas, sendo mil delas reservadas a pardos, negros e indígenas.

“O curso garantirá aos alunos um diploma de ensino superior que permitirá exercer atividades profissionais e poderá prestar concurso público”, diz Vogt. “A ideia não é de um reforço ou cursinho preparatório, mas uma nova modalidade que se acrescenta às formações de nível superior e cumpre o papel social de políticas públicas para capacitar o nosso jovem”, acrescentou ele.

“A universidade não pode ficar longe do seu tempo. Não podemos deixar de lado a inclusão social e, por isso, os reitores das três universidades estaduais estudaram uma iniciativa e apresentaram ao governo”, explicou o reitor da USP, João Grandino Rodas.

Fundo especial
Outro ponto do programa é garantir a permanência do estudante dentro do programa. Será criado um fundo especial para apoiar a inclusão social no ensino superior com bolsas mensais de meio salário mínimo (atualmente seria R$ 311) para alunos com renda familiar inferior a 1,5 salários mínimos. Quem tiver o benefício terá sua participação nas atividades avaliadas mensalmente. “A questão do mérito estará presente em todas as etapas”, diz Vogt.
“Não adianta dar a oportunidade de entrada nas universidades sem oferecer meios para ele permanecer estudando”, explicou o reitor da Unicamp, Fernando Ferreira Costa.

O governo estadual investirá no Pimesp R$ 27 milhões no primeiro ano do plano. O investimento terá incremento anual até chegar a R$ 94,7 milhões no sétimo ano, a partir de quando permanecerão constantes os investimentos, segundo o governador.

A terceira estratégia é implantar nas instituições de ensino superior um plano de recrutamento de estudantes capacitados para atingir as metas. Algumas universidades e faculdades públicas já contam com iniciativas singulares, como a Unicamp, onde um programa permite que os melhores colocados no Enem nas escolas públicas ingressem diretamente na universidade, sem vestibular.

 

 

 

Fonte: G1 

+ sobre o tema

Nem todo lugar é lugar de preto

por Bianca Santana Na última terça, 15 de julho, a jornalista Lília...

Casa noturna Villa Mix é investigada pelo MP por discriminação

O Ministério Público (MP) de São Paulo investiga denúncias...

para lembrar

Gênero, raça e ascenção social

por Sueli Carneiro ASHELL ASHELL PRA TODO MUNDO ASHELL Ela mora...

Geledés parabeniza ao STF e ao Brasil

Suelaine Carneiro - Diretora do Geledés Geledés parabeniza ao STF...

Pastor processa polícia dos EUA após ser preso enquanto regava flores

O pastor Michael Jennings, um homem negro, processou na...

Política de cotas torna elite mais colorida, dizem simpatizantes

Fonte: Terra Notícias -     No próximo...
spot_imgspot_img

OAB suspende registro de advogada presa por injúria racial em aeroporto

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG) suspendeu, nesta terça-feira (25), o registro da advogada Luana Otoni de Paula. Ela foi presa por injúria racial e...

Ação afirmativa no Brasil, política virtuosa no século 21

As políticas públicas de ação afirmativa tiveram seu marco inicial no Brasil em 2001, quando o governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho sancionou...

Decisão do STF sobre maconha é avanço relativo

Movimentos é uma organização de jovens favelados e periféricos brasileiros, que atuam, via educação, arte e comunicação, no enfrentamento à violência, ao racismo, às desigualdades....
-+=