Uma defesa da vida

no Jornal do Brasil por Mônica Francisco

O dia já passou, mas a necessidade de se estimular cada vez mais uma maior consciência do que é ser negro e negra no Brasil é mais do que uma defesa ideológica ou política, uma defesa da vida.

Talvez vocês leitores desta ou de outras tantas colunas, pessoas inteligentes que são bem informados, saibam que os números são todos um demonstrativo muito claro do resultado do tratamento dispensado aos negros e negras neste nosso lindo e tropical cantinho ao Sul do Continente.

Nestas terras lindas e perversas para os negros, que os números, os amigos mencionados no parágrafo acima, colocam também entre os mais pobres, mais encarcerados por delitos, atingidos por doenças, mortos pelos mesmos motivos e causas, pedintes, em situação de rua, de menor remuneração, vítimas do maior tempo de espera para serem atendidos ou atendidas em unidades de saúde.

Pode apenas ser um tipo de fatalidade, ou talvez estas pessoas que, coincidentemente, têm a mesma cor de pele e ascendência terem esse tratamento em nossa sociedade seja só mesmo uma coincidência.

Talvez a senhora deficiente visual que vi no trem do ramal Japeri que peguei para Nova Iguaçu, pedindo sobras de marmita, seja uma pessoa pouco esforçada, que não lutou o bastante para ter uma vida melhor, tanta gente consegue tendo a mesma origem, não é?

O que dizer dos jovens e adolescentes que, segundo a funcionária do colégio onde meu amigo leciona no município citado acima, que não tem nenhuma área de lazer ou equipamento cultural em um raio de quilômetros, e que ficam completamente órfãos da escola nas férias, pois lá tem toda sua sociabilidade, tomarem um caminho não muito ortodoxo?

A criança morta no Alemão, após se acidentar na piscina, pulou o muro com os coleguinhas para brincar na piscina que se oferecia a eles neste calor dos trópicos. A grande questão posta por funcionários da escola foi a falta de mais vigias para manter a escola incólume. Quem disse que o importante é fazer uma discussão sobre a escola ABERTA e ACESSÍVEL à COMUNIDADE?

A discussão deve ser provocada à exaustão. Sem reconhecimento das relações sociais impregnadas de ódio racial no Brasil, não haverá salvação para nós. Esse ódio se manifesta de maneira muito mais perversa e eficaz do que o que os EUA e a África do Sul viveram.

Pior porque contaminou tudo e se disfarça na destruição silenciosa, lenta e gradual de uma parte da população brasileira. De forma institucional e transparente, quase imperceptível a olho nu. Isso não é brincadeira, é real e mata.

Mas, apesar de tudo, eu acredito na força de um povo que depois de 350 anos de opressão e escravização manteve sua cultura, sua beleza e, sobretudo, sua coragem.

Fui ver “Tim Maia, o filme”. Pois é, e tive mais certeza, racismo mata. Como disse o lutador Anderson Silva, ser negro no Brasil é muito duro!

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”

*Mônica Francisco, é membro da Rede de Instituições do Borel, coordenadora do Grupo Arteiras e consultora na ONG ASPLANDE.

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