‘Uso de pronomes representa uma conquista’, explica executiva trans

Não é a primeira vez que escrevo uma coluna sobre o uso de pronomes. Confesso que essa é uma luta que venci parcialmente. As pessoas mais próximas a mim respeitam os meus pronomes e na maioria dos casos desconhecidos também. Mas, vez ou outra, aparece alguém que está digamos… ‘aprendendo’. E saiba que, às vezes, o aprendizado é longo.

Pronomes me parecem algo tão básico que fico surpresa quando reagem ao assunto como se complexo fosse. Basta praticarmos uma escuta atenciosa a uma pessoa trans para identificarmos, sem maiores constrangimentos, o pronome de tratamento. Podemos, por exemplo, atentar como ela se refere a si, como os conhecidos se dirigem a ela, e por aí vai.

No mundo corporativo algumas empresas incentivam os seus colaboradores (cis e trans) a colocarem na assinatura dos e-mails os pronomes que devem ser utilizados. No meu caso, algo como: “Danielle Torres (ela, dela)”.

Inclusive, quando vejo meus colegas cis adotando pronomes em suas assinaturas, transmite-me um sentimento de acolhimento e também a sensação que todos nós partimos de um ponto de igualdade. Algumas redes sociais já entenderam essa necessidade e incluem a opção de indicar os pronomes logo após o nome, independentemente do gênero de cada um.

Não obstante, já me indagaram se está tudo bem perguntar quais pronomes utilizo. A minha resposta costuma ser: “Diante de tantas indicações, precisa?”

Por eu ser trans, alguns imaginam que tenho quase um compromisso de ensinar constantemente sobre o universo LGBTQIA+. Porém, assim como em outros temas relacionados a minorias, acredito que cada um de nós deve aprender sobre aspectos que propiciam uma convivência social adequada ou que envolvam direitos. A internet está repleta de bons materiais para pesquisa desse e outros temas.

Fico a pensar o motivo que algumas pessoas demonstram dificuldade em utilizar o pronome correto. Certamente não é um único fator, mas um conjunto que explica esse comportamento. Acredito que um deles inclui o fato que pessoas cisgênero terem uma garantia social de que os seus pronomes serão respeitados. Assim, muitas acabam por não refletir quanto ao impacto que o uso indevido de um pronome pode causar no outro.

Nós que somos transgênero, por outro lado, lutamos constantemente por inclusão, direitos e respeito. Os pronomes são um alicerce e representam uma conquista, podendo inclusive estar relacionado a manutenção da nossa saúde mental.

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