Vetada mudança na Lei Maria da Penha que transferia funções da Justiça à polícia

Diante da pressão de movimentos em defesa das mulheres e de recomendações de dois órgãos do governo, o presidente Michel Temer vetou uma mudança polêmica na Lei Maria da Penha, aprovada pelo Congresso no mês passado. Temer sancionou na noite desta quarta-feira a lei que acrescenta novos dispositivos à Maria da Penha, em vigor desde 2006 e considerada como decisiva na tentativa de combate à violência contra a mulher, e vetou um artigo – o 12-B – e dois parágrafos relacionados.

por  Vinicius Sassine no Extra

A informação foi confirmada ao GLOBO pela Casa Civil da Presidência. O artigo permitiria à polícia aplicar medidas de urgência de proteção a vítimas, em substituição a determinações de um juiz, que seria comunicado num prazo de 24 horas.

A proposta vetada por Temer era criticada por associações de juízes e por movimentos em defesa da mulher. Dentro do governo, o veto ao artigo 12-B foi defendido pelo Ministério dos Direitos Humanos e pela Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres.

Em entrevista ao GLOBO publicada no último dia 2, a ex-secretária de Direitos Humanos e ex-secretária nacional de Cidadania do governo Temer, Flávia Piovesan, defendeu o veto ao artigo 12-B. Ela deixou o governo para integrar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA).

— Fui muito enfática em relação ao veto ao artigo 12-B do projeto de lei que altera a Lei Maria da Penha. O movimento de mulheres está muito preocupado, em razão do artigo 12-B, que transfere do Judiciário para as autoridades policiais a concessão de medidas de proteção às mulheres em situação de violência. Mais uma vez, viola a Constituição. Fere a Constituição transferir uma competência privativa do Judiciário para a polícia — disse Piovesan na entrevista.

O artigo vetado por Temer fazia a seguinte previsão: “Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física e psicológica da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de seus dependentes, a autoridade policial, preferencialmente da delegacia de proteção à mulher, poderá aplicar provisoriamente, até deliberação judicial, as medidas protetivas de urgência previstas, intimando desde logo o agressor”. Os parágrafos 1º e 2º, também vetados, diziam que o juiz deveria ser comunicado em 24 horas, com possibilidade de manutenção ou revisão das medidas protetivas, e também que a polícia poderia pedir à Justiça outras medidas, inclusive a decretação de prisão do agressor.

Entre essas medidas, previstas na Lei Maria da Penha, estão a proibição – determinada por um juiz – de o agressor se aproximar da vítima, de frequentar determinados lugares e de visitar os filhos. Além disso, caso o artigo 12-B fosse sancionado, a polícia poderia decidir, no lugar do magistrado, pelo encaminhamento da vítima e de seus filhos a um programa de proteção, assim como pelo retorno à casa depois do afastamento do agressor.

A nova lei, que inclui artigos na Lei Maria da Penha, tem o número 13.505, de 8 de novembro de 2017. Ela prevê atendimento especializado a vítimas de violência doméstica e familiar e prioridade, pelas unidades da federação, na criação de delegacias especializadas de atendimento à mulher.

+ sobre o tema

Para Anistia Internacional, Nobel da Paz encorajará mulheres de todo o mundo

A organização humanitária Anistia Internacional (AI) destacou nesta sexta-feira...

Marcha Trans ocupa ruas centrais de São Paulo e pede mais visibilidade

Nesta sexta-feira (9), o Largo do Arouche, no centro...

Dia da Mulher: educação social auxilia no combate à violência de gênero

No Dia da Mulher, os números mostram a realidade...

Afro Imagens: Política, Moda e Nostalgia, por Angela Davis

Referência Angela Davis (1994) Não muito tempo atrás, na cidade de...

para lembrar

70 mil brasileiros já foram vítimas do tráfico de pessoas

Levantamento apontou a exploração sexual como responsável por 79%...

Mulher aparece no próprio funeral após marido mandar matá-la

Noela Rukundo vive em Melbourne (Austrália) e teve sua...

Aplicativo que auxiliará mulheres vítimas de violência entra em fase de testes

Um ano depois da assinatura do termo de cooperação...
spot_imgspot_img

Machismo contribui para a remuneração das mulheres ser inferior à dos homens

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mulheres têm remuneração, em média, 17% menor que a dos homens e, até mesmo...

Aos 82, Benedita da Silva lembra trajetória de luta pelas minorias: “Ainda falta muito”

A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) afirmou que o cenário das minorias já melhorou bastante no Brasil, mas ainda há muito a ser...

Mulheres são assassinadas mesmo com medidas protetivas; polícia prendeu 96 por descumprimento

Casos recentes de mulheres mortas após conseguirem medidas protetivas contra ex-companheiros mostram que o assunto ainda é um desafio no combate à violência contra...
-+=