Voltando ao Brasil de 1 a 7, uma experiência do racismo no Brasil

AD Junior, 29 anos, Especialista em Marketing Digital,
Vive na cidade de Hamburgo na Alemanha

Voltando ao Brasil de 1 a 7

no Senti na pele

“Voltar para o Brasil é sempre uma experiência interessante, saber que vou rever meus amigos e viver momentos de muito amor e alegria rodeado pela minha querida família. Com o tempo a gente vai acostumado com a forma do brasileiro de ser e se irrita com algumas coisas e passa a admirar outras.
Na última segunda-feira, Ronny me deixou no Aeroporto de Frankfurt por volta das 15:30 minutos e fui diretamente ao balcão de embarque da TAM, sendo esta a minha primeira experiência internacional viajando com a TAM para o Brasil, eu havia me esquecido que estava na verdade voltando aos costumes brasileiros quando entrei na fila e aí começou:

1. Há um grupo de brasileiros contando vantagens de ir Roma e enumeram as marcas de grifes adquiridas durante a viagem. Pelo sotaque são do sul do país, me olham, quando pergunto quando abre o check-in e dizem não saber com olhar desconfiado, a mãe puxa a filha pro lado e o pai empurra o grupo para mais longe.

2. A mocinha a minha frente tenta puxar papo, animada e simpática está falando de sua ascendência alemã, e de como sua família sempre vem a Europa. Me olha e diz: Primeira vez fora do Brasil e respondo qualquer coisa inteligível– não quero falar nada da minha vida, já quero voltar pra casa.

3. O check in abre e somos atendidos – muito bem por sinal – e o rapaz ao lado precisa de ajuda e solta: “Já despachei uma mala extra previamente, dessa vez comprei muito em Paris” – eu ignoro.

4. 30 minutos antes da hora do embarque há uma fila, não entendi o por que da fila pois não estavam chamando ninguém, as pessoas simplesmente entravam na fila sem saber nem o que estava acontecendo e logo que o procedimento abriu esvaiu-se. Um passageiro experiente vendo a cena faz uma piadinha: “fila da vacina?” – concordo com sorriso.

5.Chegamos ao Brasil e fui pegar a mala e um senhor me pergunta: É jogador de Futebol? – eu respondo que infelizmente estudei e não tive a sorte de virar jogador de futebol e completo que pelo menos se fosse estaria rico. Ele emudece.

6. Chego ao Rio de Janeiro peço um drink, o rapaz traz o drink começa a conversa de como foi viver em Londres e bla bla e digo que moro na Alemanha e não acho que a vida é tão melhor assim depois ele fala umas palavras em alemão e foi nesse momento que um grupo de turistas de São Paulo, que haviam acabado de chegar e pensando que eu não falava português viram para o BarMan e dizem: “Quem é o Africano, esse Jamaicano aí… ta bebendo o que ele?” fazem insistentemente piadas sobre mim até que o rapaz diz q falo português… eu so queria saber o que essas pessoas falam quando não estamos perto e são as piadas são impublicáveis!

7. Nesse momento me lembrei de que estava chegando num país que aprendeu a se ver superior a mim em tudo, aonde negros até poucas décadas atrás eram ensinados a servirem e se calarem, e se um dia eu reclamar sobre esses sintomas de apartheid sócio-mental e comportamento bizarro para impor e mostrar quem é, vou ser acusado de me fazer de vítima e tempestade no copo d’agua!

Bem-Vindo às suas Férias!”

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