Zorra total e racismo explícito

 

Um quadro do programa Zorra total, da Rede Globo, tem provocado indignação no público sensível aos problemas do racismo e da discriminação racial no Brasil. Tem como protagonista uma mulher chamada Adelaide – interpretada pelo ator – em que se concentram todos os estereótipos negativos atribuídos às mulheres negras: é feia, desdentada, ignorante, e costuma fazer referências pejorativas, por exemplo, ao cabelo dos negros. Um combustível perfeito para o bullying que aflige as crianças negras, especialmente as meninas, na escola e nos círculos de convivência, contribuindo para manter baixa a autoestima de um segmento da população quotidianamente adestrado a se sentir e comportar como inferior.

Infelizmente, o humor baseado em estereótipos raciais tem uma longa tradição em nosso país. Não é preciso muito esforço para nos lembrarmos de nomes como Grande Otelo (a despeito de seu reconhecido talento), Gasolina, Muçum, Tião Macalé, que sempre representaram personagens associados ao alcoolismo, à preguiça, à falta de cultura e de inteligência. Sem contar os brancos pintados de preto, até hoje presentes nos programas humorísticos da TV.

Nos Estados Unidos, o uso de atores brancos – ou mulatos – com a cara pintada de preto, ou “blackfaced”, em papeis que ridicularizavam os negros foi prática comum nos tempos da segregação racial. Personagens como Aunt Jemima, Jim Crow (que poderíamos traduzir como Zé Urubu), Zip Coon, Buck, Jezebel, Pickaninny, Uncle Tom, Amos ‘n’ Andy e outros, que refletiam os mais grosseiros estereótipos a respeito dos afro-americanos e de sua cultura, eram, não obstante – ou talvez por isso mesmo -, altamente populares entre as plateias brancas. Na década de 1960, com o Movimento de Direitos Civis, incluindo boicotes organizados por entidades como a NAACP, o uso desses personagens se reduziu enormemente, embora continue presente, de forma bastante atenuada, em algumas produções mais atuais. Em Bamboozled (2000), que no Brasil ganhou o título de A Hora do Show, Spike Lee faz uma crítica à tradição dos minstrel shows e do vaudeville, gêneros baseados nessa estereotipia. Aos interessados, vale a pena dar uma olhada no site black-face.com.

 

 

Fonte: Jorge da Silva

+ sobre o tema

Porte de maconha para uso pessoal: entenda como fica a proposta em análise no Congresso após a decisão do STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) deve concluir, nesta quarta-feira...

STF retoma julgamento sobre descriminalização de maconha

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma nesta terça-feira (25)...

Deputadas do PSOL entram na Justiça para suspender censura a livro sobre mulheres na ciência

As deputadas Fernanda Melchionna (PSOL-RS) e Sâmia Bomfim (PSOL-SP) entraram com uma representação...

Metade das crianças violentadas foi agredida mais de uma vez

O Brasil registrou 58,3 mil casos de estupro de crianças e...

para lembrar

Música Baiana em Estado de Imbecilidade por Eduardo Sergio Santiago de Queiroz

Caro Vanderley Soares! Há alguns dias recebi um email...

Mãe Estela: O Outono chegou!

Maria Stella de Azevedo Santos   O Outono chegou! Engraçado...Vi e...

Notas de Rodapé: Vlado em 4 atos

por Fernanda Pompeu 1.Há 13.505 dias o mundo era...

Kassab vai cortar uma refeição nas creches

Hoje, o cardápio das crianças é composto por cinco...

SP enquadrou 31 mil negros como traficantes em situações similares às de brancos usuários

Para a polícia de São Paulo, a diferença entre um traficante e um usuário de drogas pode estar na cor da pele. Ainda mais quando o acusado é flagrado...

STF retoma julgamento sobre descriminalização do porte de drogas

O Supremo Tribunal Federal (STF) retoma nesta quinta-feira (20) o julgamento sobre a descriminalização do porte de drogas para uso pessoal.  Em março deste ano,...

STF começa a julgar nesta terça (18) supostos mandantes da morte de Marielle

O Supremo Tribunal Federal (STF) inicia, na tarde desta terça-feira (18), o julgamento dos cinco suspeitos de envolvimento nos assassinatos da vereadora carioca Marielle Franco e...
-+=